Guilheiro perde na repescagem e se despede de Londres

AFPGuilheiro limpa o suor durante a luta com Nakai: brasileiro não conseguiu encaixar seu jogo

Guilheiro limpa o suor durante a luta com Nakai: brasileiro não conseguiu encaixar seu jogo

No peito, um corte. No olho esquerdo, uma mancha roxa. Sem lágrimas. Arrumou a faixa com carinho e saiu de cena. Pela primeira vez, não voltou para subir ao pódio. Líder do ranking mundial, Leandro Guilheiro se despediu dos Jogos Olímpicos de Londres ao ser derrotado na repescagem da peso-meio-médio (até 81kg) pelo japonês Takahiro Nakai. Bronze em Atenas 2004 e em Pequim 2008, quando ainda competia na 73kg, perdeu a chance de se tornar o maior medalhista do judô brasileiro.

Deixou o tatame sereno. Ainda estava pensando na luta. Tão concentrado que não se deu conta dos machucados. Ainda não sentia por completo a dor da eliminação.

– Certamente mais tarde a paulada vai ser pior. Estou tão focado que ainda estou equilibrado. Depois que relaxar, essa derrota vai doer…

Leandro traçou meticulosamente cada passo até chegar a esta terça-feira. De Pequim a Londres, uma mudança radical e uma incômoda lesão nas costas. Cansado da tortura para se manter na leve (-73), decidiu se arriscar como meio-médio. Poderia pesar até 81kg. Deixaria de brigar com a balança, mas teria de começar do zero. Foi simples. Mudou de categoria no fim de 2009, foi prata no Mundial de Tóquio de 2010 e, ano no seguinte, bronze em Paris. Perdeu a final no Japão para o coreano Kim Jae-Bum. Nas semifinais na França, caiu diante de Srdan Mrvaljevic, de Montenegro. Estava engasgado.

– Saio muito tranquilo porque sabia que tinha uma parada dura aqui. Tinha a condição de ser o número 1 do ranking, as pessoas estavam me estudando. Treinei muito. Treinei a mente, o físico, o corpo, judô. Saio sabendo que fiz tudo… O ciclo olímpico que tive mostra isso. Foi uma derrota no tatame. Não foi antes, nem depois. Essas foram as Olimpíadas em que me preparei melhor, em todos os aspectos, mas os caras foram melhores.

Logo na primeira luta em Londres, um presente. Elnur Mammadli, do Azerbaijão, campeão olímpico da leve em Pequim 2008, perdeu para o canadense Antoine Valois-Fortier na decisão dos árbitros.

Guilheiro passou por Konstantins Ovchinnikovs, da Letônia, com duas advertências contra o adversário. O segundo rival foi o marroquino Safouane Attaf, que também tinha contado com um bocado de sorte: passou às oitavas sem precisar entrar no tatame. Liva Sayee, da Libéria, não bateu o peso da categoria.

Uma hora depois da primeira luta, Guilheiro e Attaf entraram no tatame. Vitória por ippon, com seoi, seu golpe preferido. Depois, novo golpe de sorte. Mrvaljevic, o carrasco em Paris, se despedia nas oitavas, derrotado pelo canadense Antoine Valois-Fortier.

Comemoração discreta. Afinal, teria, nas quartas, seu primeiro grande desafio: Travis Stevens. Só tinha enfrentado o americano uma única vez, nos Jogos Pan-Americanos de Guadalajara. E o brasileiro levou a melhor, na luta do ouro.

– Isso é até um problema… Se você ganha do cara, entra igual. Já o cara entra diferente… – disse o brasileiro, depois da eliminação.

A torcida cantava "Leandro vem aí, o bicho vai pegar". Kayla Harrison, maior adversária de Mayra Aguiar, sentou-se a duas fileiras de onde estava a comissão técnica brasileira, na arquibancada. Gritava sem parar. Ney Wilson, coordenador, mantinha-se quieto, como de costume.

Kayla empurrava o colega e, após a vitória, deixou os brasileiros sozinhos, digerindo a derrota. Depois do intervalo, todos saíram dali. Era melhor evitar outro constrangimento. Mas não deu para evitar a derrota…

– Não senti pressão em nenhum momento, estava blindado em relação a tudo. Não fui negligente em nada. Estar nas Olimpíadas, para mim, é motivo de felicidade, um sonho desde garoto. Se não consegui o resultado que eu queria, é porque os caras foram melhores.

O combate da repescagem começou em alta velocidade e Nakai logo imprimiu um ritmo forte. A torcida gritava "Guilheiro, Guilheiro". O brasileiro tentou a técnica de sacrifício duas vezes e teve de defender dois contragolpes. Com cerca de 3m40s restando, o paulista levou um shido (advertência) por pisar intencionalmente fora da área de luta.

Com 3m08s, veio a segunda punição a Guilheiro, por falta de combatividade, e o acúmulo de advertências somou um yuko a favor do japonês. Nakai passou a controlar o brasileiro com o braço esquerdo, impedindo que ele pegasse a manga para emplacar seus golpes. O tempo passava e o japonês só crescia na luta. Ao final, vitória de Nakai, que, na luta seguinte, foi derrotado.

– Eu estava tranquilo, mesmo depois da derrota para o americano. Eles traçaram uma estratégia que eu já imaginava que iriam fazer, mas por mais que eu tenha treinado e tentasse, não consegui ter a capacidade de achar uma solução para sair disso. Eles lutaram melhor e anularam a minha pegada – lamentou o brasileiro.

Fonte: Globoesporte.com

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