Baianos são barrados na Espanha

O jogador de futebol Ramon Santana, 16 anos, e a fazendeira Maria Inês Martins, 40 anos, desembarcaram de volta a Salvador, na noite de sábado, depois de terem sido impedidos de entrar na Espanha. Depois de 26 horas no aeroporto espanhol, voltaram pelo mesmo vôo 083, da Air Europe, apenas com a bagagem de mão e a promessa de receber as demais malas mais tarde. Chegaram às 21h05, indignados.

“Fui tratado como cachorro”, conta Ramon Santana, 16 anos, que usaria Madri apenas como conexão para Milão, na Itália. A fazendeira Maria Inês Martins, 40 anos, concorda com o adolescente e conta detalhes do tratamento recebido na Espanha. “Pela noite, vieram com uma lanterna e colocaram na cara de cada um, pedindo silêncio. Nos acordaram batendo nas portas, como se fôssemos presidiários. Para tomar banho, não nos deram toalha. Tivemos que nos enxugar com lençóis”, diz.

Maria Inês e Ramon dizem ter ficado com mais de 200 pessoas, de diferentes nacionalidades, nas primeiras horas no aeroporto de Madri. Esperaram cinco horas até ter o primeiro contato com a polícia espanhola. Horas depois de responder a perguntas como quanto dinheiro traziam e o que iriam fazer no país, teriam sido obrigados a assinar um documento sem ter direito a ler o conteúdo.

O documento era um certificado de negação da entrada no país, no qual o Ministério do Interior espanhol observa que o estrangeiro tem o direito de recorrer em até um mês, com base nos “artigos 107, 114 e 115 da Lei 30/92, de 26 de novembro, redigida segundo a Lei 4/99 do R.J.A.P. e P.A.C.”.

Prejuízos – Os dois baianos perderam R$ 1.800 só em passagens e ainda aguardam todas as roupas e outras bagagens chegarem nos próximos dias. A experiência deixou Ramon “muito irado”, como ele diz. “Eu queria ir ao banheiro e não permitiram”, relata. “Se duas pessoas levantassem juntas para pegar café, um policial espanhol gritava e mandava separar”, disse a agricultora Maria Inês.

Ela destaca que os policiais andaram com armas à cintura o tempo todo e considerou o tratamento violento. Ambos ainda não sabem de que forma pedirão indenização pelo constrangimento que passaram, além do prejuízo financeiro.

“Depois de nos obrigarem a assinar isso, trouxeram um advogado de mentirinha, que nem falava espanhol, para nos ajudar. Uma farsa”, acusa Maria Inês. Ela portava mil euros, cartões de crédito, tinha comprovante de reserva em hotel próximo a Barcelona e passagem de volta. Mesmo assim, não pôde entrar na Espanha sob a justificativa de “falta de documentos adequados que justifiquem o motivo da permanência”. A fazendeira, que mora em Barra do Mendes, conta que teve todos os pertences apreendidos: notebook, mp4, celular e máquina fotográfica.

Espera – Filho de uma dona-de-casa e de um segurança, Ramon Santana já jogou na divisão de base do Vitória (BA), Santo André (SP) e Tigres (RJ). Sua expectativa era a de passar um tempo em times italianos, morando com a irmã mais velha, que é casada com um milanês. Seria o tempo de o jovem iniciar carreira internacional. “Eu não vou desistir por causa do governo espanhol”, avisa ele, que estuda em escola pública no bairro de Boa Vista de São Caetano.

A mãe de Ramon, Maria Isabel Rego de Jesus, 55, mal podia conter a ansiedade pela espera do menino. O vôo 083 chegou às 21h05, mas o garoto só apareceu no desembarque 20 minutos depois do pouso. Foi recebido com gritos de alegria e abraços.

Seis espanhóis e um italiano foram repatriados pela PF

No vôo no qual estavam os baianos expulsos da Espanha vinham seis espanhóis e um italiano que foram repatriados na madrugada deste domingo, após desembarcarem no Aeroporto Internacional de Salvador. Eles chegaram às 21h05 de sábado, no vôo 083 da Air Europe, mas, segundo a Polícia Federal (PF), não preenchiam requisitos para entrar no País.

“Não tinham dinheiro suficiente, reserva em hotel, passagem de volta, cartão de crédito, os principais itens exigidos pela imigração européia”, explicou Francisco Miguel Gonçalves, chefe do Núcleo de Imigração localizado no aeroporto. Um sétimo espanhol foi deportado naquela noite por estar irregular no País. Ele foi “pego” no check-in.

Vergonha– “Não posso pedir desculpas pela Espanha, mas, por mim, estou envergonhada”, disse a agricultura espanhola Marta Feliu, 40, que há seis meses mora no Capão. Ela esperava pela irmã, que só apareceu às 22h45. “Que susto!”, exclamou várias vezes, abraçando a irmã.

Às 23 horas, duas horas depois da chegada do vôo, a estudante espanhola Belén Mustan, 22, já pensava que as amigas que vinham de Madri teriam sido barradas. Belén mora em São Paulo há um ano, onde faz pesquisas com uma bolsa de estudos. Ela conta que em seu país há muitos imigrantes sul-americanos e africanos, mas conheceu poucos brasileiros. Somente às 23h15 Belén pôde abraçar as amigas.

O economista português Cristóvão Norte, 31, que veio no mesmo vôo, apoiou a postura brasileira. “Fico muito satisfeito que os brasileiros, que possuem tantos baluartes da cultura ocidental, lutem contra a expansão do império espanhol, que quer dominar a América do Sul, comprando capital em várias empresas e serviços importantes, como telefonia e energia elétrica”, disse.

Fonte: A Tarde

Veja Mais

Deixe um comentário

Vídeos