A solidão

Era noite. As luzes vermelhas dos automóveis indicavam a direção para onde eles iam. De longe ele observava o desfile colorido e imaginava para quais destinos todas aquelas pessoas que passavam nos automóveis poderiam estar indo. Passeando? A trabalho? Seguindo para alguma festa de confraternização, alguma outra reunião social? Talvez para suas próprias casas? Certamente tinham um objetivo e o principal é que todos poderiam sentir-se úteis exercendo alguma atividade em benefício de si mesmos ou, especialmente, para suas famílias. Família… Ele não tinha família! Estava ali sozinho, parado no mesmo lugar há muito tempo. Era dia ainda quando ali chegara e até nem sabia como veio parar naquele lugar.

Não tinha família realmente. Tinha casa, é verdade, mas apenas a casa material que em tais condições não poderia jamais ser reconhecida como um lar. Faltava-lhe a vida da casa, uma família. Faltava-lhe a alegria de chegar e ser recebido com um simples sorriso, com um abraço ou talvez com um beijo carinhoso. Faltava-lhe ouvir o riso de crianças, ter com quem dividir as preocupações da vida ou do próprio trabalho. Faltava-lhe encontrar sentido para a vida que até então não soubera aproveitar.

Continuava então ali, absorto com esses pensamentos, enquanto o fluxo do tráfego seguia levando todas aquelas pessoas para seus destinos preestabelecidos. Queria vê-las chegar. Não importava para onde fossem, contanto que pudesse acompanhar, mesmo de longe, a felicidade de cada um, pois talvez assim pudesse aprender como fazer, como ser, e aí então definir seu próprio rumo.

Ele nem percebeu que o trânsito já não era tão intenso. Poucas luzes vermelhas ainda podiam ser vistas no final da rua. Recostado agora no velho banco da praça, tentava livrar-se dos pensamentos que tanto o atormentavam e assim adormeceu.

Surpreendeu-se com o silêncio na rua. Só o vazio de tudo como se quisesse fazer real o que se passava na sua alma. Os primeiros raios de sol começavam a tingir o horizonte. Uma leve brisa afagou seus cabelos precocemente grisalhos. Os passarinhos acordavam e aos poucos foram enchendo o vazio do silêncio com o chilreado alegre de cada um. Era a saudação ao novo dia.

Era a vida intensa da natureza que gritava para acordá-lo, como se teimasse em lembrar que, mesmo quando estamos sós, ainda alguém vela pela vida que nos emprestou, esperando que saibamos aproveita-la em sua plenitude, cumprindo nossas próprias missões e servindo aos nossos semelhantes.

Levantou-se enfim. Decidiu! Também iria buscar seu destino. Deu o primeiro passo buscando firmeza em sua decisão. Sorria agora e balbuciava obrigado Senhor, pois sabia que estava se encontrando, enquanto fugia da solidão.

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