Dor crônica afasta 250 mil trabalhadores a cada ano

"Você não morrerá desta dor, mas ela vai morrer com você." A bancária Sandra Helena Del Pupo, 43, ouviu a frase de um médico há 11 anos, ao ser afastada do banco em que trabalhava. Motivo: não suportava as dores na mão e no cotovelo.

Esse é apenas um exemplo de um quadro cada vez mais comum entre trabalhadores com idades entre 20 e 35 anos: o de dor crônica –provocada, em geral, por distúrbios osteomusculares como LER-Dort.

"É o mal dos nossos tempos", define o psiquiatra do Centro de Dor Crônica do Hospital das Clínicas Rubens H. Bergel.

O levantamento feito por Anadergh Barbosa-Branco, professora do Laboratório de Saúde do Trabalhador da UnB (Universidade de Brasília), mostra que, só em 2004, foram concedidos 248.780 benefícios previdenciários derivados de doenças que levaram à dor crônica.

Desse universo, as mulheres são as mais suscetíveis: somam 62% dos afastamentos. "Elas têm maior prevalência em afastamentos por doenças cujo desfecho é a dor crônica", reforça Anadergh Barbosa-Branco.

Condições de trabalho

Não há estatísticas sobre o número de profissionais com dor crônica no país. Mas sindicatos, médicos e o Ministério da Previdência Social começam a se mobilizar para desenhar a dimensão real do problema.

"Sabemos que o número é grande e que causa forte impacto nas contas da Previdência", assegura o assistente da secretaria executiva do ministério Paulo Albuquerque Oliveira.

O escopo de trabalhadores atingidos, porém, já é conhecido. Bancários, operadores de telemarketing, digitadores, montadores, bilheteiros e caixas são os funcionários mais sujeitos à doença, segundo a médica e pesquisadora Maria Maeno, da Fundacentro (Fundação Jorge Duprat Figueiredo de Medicina e Segurança no Trabalho), ligada ao Ministério do Trabalho e Emprego.

Já para o psiquiatra Rubens H. Bergel, são condições de trabalho –e não movimentos repetitivos– que levam, na maioria das vezes, à dor crônica.

É também o que atesta a bancária Rosana Arantes, 46. "Devo ter disciplina e controlar o meu estado emocional", diz ela, sobre a dor que sente no braço direito desde 1991.

"Quando resolvi procurar um médico, fui afastada", conta Arantes, que estava no banco havia oito meses quando começou a sentir a dor. Sua licença médica durou dois anos.

O retorno, conta, foi árduo. "Não conseguia ser realocada e, por isso, tinha crises agudas." Foi demitida em 2001. "Agora, sou considerada incapaz de trabalhar", conta ela, acrescentando que pretendia chegar à superintendência do banco quando iniciou a carreira.

Fonte: Folha Online

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