Salvação individual é utopia condenada ao fracasso

No que diz respeito à história da evolução do espírito humano, acredita-se que o ideal do bem comum surge no instante em que se evolui do estado de organização natural, isto é, da aglomeração humana instintiva ao estado de natureza civil, correspondendo ao que se convencionou chamar de o início da Idade Moderna.

Neste momento, surge a necessidade, descrita por Rousseau, da formulação de um contrato social expresso, segundo ele, da seguinte forma: “em lugar de voltar nossas forças contra nós mesmos, reunamo-nos num poder supremo que nos governe segundo sábias leis, que protejam e defendam todos os membros da associação, expulsem os inimigos comuns e nos mantenham em concordância eterna”.

Formulada nestes termos – e aí o leitor já sabe onde quero chegar – na segunda metade do século XVIII, esta questão permanece atualíssima e nos diz respeito, pois ela trata de fato do combate sistemático e ininterrupto entre as pulsões individuais e de autodestruição características ao ser humano e o ideal de civilização e de progresso inerentes às sociedades.

Nos países hoje civilizados houve uma linearidade evolutiva do espírito humano – e o conseqüente avanço do respeito coletivo e de um maior senso de igualdade social – desde a barbárie até a civilização. Em nossa província, como de resto em todo o país, esta linearidade simplesmente não existiu, pois evoluímos descontinuamente e aos saltos, privilegiando pequenos núcleos sociais e colocando em marcha uma processo incessante de formação de excluídos e deserdados entregues à sua própria sorte.

Com isto, ressaltam-se dois tempos distintos vivendo ambos, paradoxalmente, em um mesmo momento histórico: barbárie e civilização digladiando-se pela conquista do espaço geopolítico, uns buscando o que sempre lhes faltou entre aqueles que os tem em excesso. O assalto a Art’s Gold, em nosso provinciano e mais conhecido centro de compras, o Iguatemi, a nossa modernidade possível, é um exemplo gritante destes dois mundos hostis.

Assim, criaram-se estas ilhotas de segurança ilusória – conforme abordei em meu último artigo, neste 24 horas -, guetos de conforto e de luxúria rodeados por um aglomerado social de despossuídos crônicos. Logo, buscando a liberdade e a felicidade individuais, enredamo-nos nas malhas de uma sociedade desigual e injusta que nos aprisiona e nos torna cada vez mais belicosos e violentos, sem freios e sem paixão.

Por isso, minhas críticas constantes, diria mesmo permanentes, aos nossos governantes, incapazes de perceber – pois lhes falta sensibilidade, grandeza e inteligência – esta realidade cristalina: o bem estar coletivo, o bem comum, é a atribuição primeira para a possibilidade do bem estar de cada indivíduo tomado isoladamente.

Esta oscilação pendular entre, de um lado, a razão civilizatória e, de outro, o instinto, representa, na verdade, a luta entre o nosso legítimo direito à cidadania e o nosso atual estado de barbárie, que os nossos pequenos avanços sociais sequer conseguem dissimular.

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