Sem-terra falam sobre Abril Vermelho em Alagoas

Ocupações, invasões e protestos. Esta será a programação dos movimentos sociais ligados à luta pela Reforma Agrária, em todo o Brasil, neste mês, em que é vivenciado – pelos sem-terra – o Abril Vermelho. Em Alagoas, conforme o líder do Movimento Sem Terra (MST), Zé Roberto, “não será diferente”.

Este mês é o é escolhido para relembrar o dia 17 de abril de 1996, quando ocorreu o massacre de Eldorado dos Carajás – no sul do Pará, onde vários trabalhadores foram mortos pela polícia local. “Até esta data ninguém foi punido”, relembra o líder da Comissão Pastoral da Terra (CPT), Carlos Lima.

A data – que teve repercussão internacional foi transformado no Dia Nacional de Luta Pela Reforma Agrária. Em Alagoas, a luta reúne vários movimentos em torno do Abril Vermelho. Movimento de Libertação dos Sem Terra (MLST), Movimento Sem Terra (MST) e Comissão Pastoral da Terra (CPT) organizam várias ocupações em latifúndios e prédios públicos, na Grande Maceió e no interior do Estado de Alagoas.

União dos Palmares

Em União dos Palmares, deve ocorrer, ainda na manhã de hoje, um ato público pelas ruas da cidade, que reunirá cerca de 900 trabalhadores, cobrando uma audiência com o prefeito José Pedrosa, para discutir questões estruturantes nos acampamentos da região, além da intervenção do prefeito junto ao governador Teotonio Vilela Filho para agilizar o processo de reforma agrária no Estado.

Coletiva

Na manhã de hoje, as lideranças dos movimentos estiveram reunidas para uma coletiva, que ocorreu no Sindicado dos Bancários. Os movimentos foram uníssonos em afirmar que – quando o assunto é reforma agrária – Alagoas é “um barril de pólvora, prestes a explodir”.

“É preciso que o Estado ajude muito para contornar esta situação. Há cinco anos que o Incra (Instituto de Colonização e Reforma Agrária) não cumpre suas metas. Alagoas é foco permanente de reivindicações e ocupações, além das perseguições, que acabam em prisões de companheiros”, colocou o líder do MLST, Marcos Antônio da Silva, o Marrom.

Neste momento, já estão em andamento 12 ocupações. Só o MST fez cinco ocupações em Alagoas. Quando indagado sobre as áreas de risco no Estado de Alagoas, Marrom destaca Atalaia, onde inclusive já houve morte de sem terra; União dos Palmares e a cidade de Murici.

Ocupações

Foram confirmadas ocupações em Porto Calvo, na Fazenda Lagoa Redonda, de propriedade do ex-presidente da Asplana, Edgar Antunes, por cerca de 100 famílias de trabalhadores rurais ligados ao MST. O clima no local é tenso e os sem-terra acusam o proprietário das terras de ameaçarem os trabalhadores com funcionários fortemente armados, que cercarem o local.

Em Joaquim Gomes, cerca de 100 famílias ocuparam uma área de aproximadamente mil hectares, conhecida como Mirim, e afirmam que só sairão após receber uma comissão de técnicos do Incra.

Em Marechal Deodoro, cerca de 200 famílias ocuparam terras que fazem parte do espólio do extinto Produban, que teria sido doado pelo Governo do Estado à igreja católica. Os trabalhadores rurais querem que o local seja transformado em um centro cultural e de lazer para o sem-terra.

Reforma urgente

Para o líder Carlos Lima, a Reforma Agrária tem que ser tratada como algo urgente, para que as terras não acabem – conforme Lima – tendo outra finalidade, que não a própria reforma. “Em Alagoas, nós temos o receio de que algumas áreas acabem sendo utilizadas para outros interesses que não a Reforma Agrária. É preciso que autoridades dêem agilidade e por isto nossa luta”, colocou.

As faixas colocadas no Sindicato dos Bancários explicitam uma realidade de 11 anos de impunidade em relação à Carajás, mas também de 11 anos sem avanços para os movimentos sociais, que pouco alcançaram, quando levado em conta os itens pleiteados. Seja em Alagoas, ou no restante do Brasil, como explicam as lideranças.

“Vamos aproveitar o dia para mostrar a real situação dos trabalhadores no Brasil. Enquanto o presidente Lula chama usineiros de herói, nós estamos aqui para mostrar que herói é povo trabalhador e sofrido que está há vários anos em uma luta. Herói são os agricultores que constroem este país, com salários e condições injustas, mas de forma honesta. Nosso Estado sofre com a concentração de renda e com o latifúndio”, destacou Zé Roberto.

Carlos Lima cita como exemplo a situação da fazenda Flor do Bosque, localizada em Murici, que teve apenas 1.200 hectares – dos 30.000- liberados para a reforma agrária. “O medo é que haja desvios”, finalizou Carlos Lima.

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