Tropa de elite osso duro de roer

Impossível assistir ao filme Tropa de Elite e não fazer um paralelo com a situação caótica do aparelho policial. O filme é uma tradução precisa, objetiva e ao exame da razão, sem subterfúgios ou espaços para discussões que se instalaram na mídia durante estas semanas, como por exemplo, a acusação de ser fascista. Apesar de ser um discurso local e direcionado a Polícia Militar do Rio de Janeiro, as imagens abraçam qualquer corporação do país e mostram a face crua de uma sociedade transvalorizada e de aparências.

A estréia em Maceió não lotou os cinemas, mas fez muita gente sair de casa – ironicamente em um feriado santo com gosto pueril – para se deparar com um discurso pouco explorado pelo cinema ao falar da relação tráfico, miséria e pequena burguesia. O capitão Nascimento – protagonista da película – não é um herói, muito menos um vilão. É o retrato de um aparelho sucateado – não apenas nas condições físicas – que resultou em deturpações que soam como verdade.

Sim! Os policiais do BOPE são honestos e treinados. No entanto, o clima de os fins justificam os meios expõe claramente as vísceras de uma sociedade de valores frágeis e corrompidos pela violência. Das vítimas que não enxergam suas culpas. Dos policiais e seus salários de misérias, frustrações familiares, sendo tratados como escória pelo Governo, mas que não se curvam ao crime. Porém, no combate a este muitas vezes utilizam táticas dignas do pior criminoso.

Direitos Humanos? Um discurso que passa longe. Por vezes esta distância recebe inclusive o apoio dos telespectadores que vão ao delírio ao som de cada tapa que o capitão Nascimento acerta no rosto de um dos aviões do tráfico. É óbvio que ainda há uma parcela de policiais honestos dentro de qualquer corporação. O filme mostra bem isto. Mas, o que é a vida destes homens? Como este conceito de honestidade e defesa da sociedade entra em suas cabeças? Isto é o que me perguntava muitas vezes assistindo ao filme.

Definitivamente tropa de elite não é facista. É um tiro seco de realidade nos corações impregnados de uma sociologia de mesa de bar, referendada por universitários amantes de Karl Marx, sem nunca ter lido meio Capital. Destaque para a cena fortíssima de uma passeata de universitários de estreita ligação com tráfico – compradores constantes – pedindo pelo fim da violência após um dos amigos ter sido vítima do próprio tráfico.

É como alguns policiais que sobem e descem morros para combater o tráfico, e não aceitam propina – mesmo diante dos baixos salários – se sentem quando vêem a pequena burguesia financiando toda aquela luta no morro. Claro que este é um ponto de vista minimalista, mas não dá para negar que é uma interrogação pertinente do filme. Tropa de Elite é osso duro de roer, pois a cada vez que se vê o filme se abrem questionamentos novos. Não sobre a PM, não sobre os universitários lá expostos e seus pontos de vistas de redominhas cristalizadas pelo rico dinheiro, trabalhos em ONGs e a leitura de meia página de Focault, ou qualquer outra coisa parecida com Vigiar e Punir.

A questão é muito mais profunda. Está no fato do quanto à transubstanciação dos valores e a flexibilidade do caráter está impregnada em cada um de nós. Quando me deparo com capitão Nascimento, lembro de alguns versos do compositor Humberto Gessinger: “Quem ocupa o trono tem culpa/ Quem oculta o crime também/ Quem duvida da vida tem culpa/ Quem evita a dúvida também tem”. Posso até estar enganado, mas Tropa de Elite expõe bem a ciranda de valores em que vivemos.

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