Menina morre após discussão de equipes de resgate

Uma criança de 7 anos que havia sido atropelada por um carro na BR-381, que liga Belo Horizonte à Vitória, no Espírito Santo, morreu após uma discussão de duas equipes médicas do Corpo de Bombeiros e do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) para decidir quem deveria socorrer a menina. O acidente foi na tarde deste domingo na altura do bairro Bom Destino, em Santa Luzia, região metropolitana de Belo Horizonte.

A estudante Dayane Soares dos Santos morreu a caminho do hospital devido aos ferimentos múltiplos e uma parada cardiorrespiratória. As duas instituições, Bombeiros e Samu, ainda divergem, nesta segunda-feira, sobre o que realmente teria acontecido. De acordo com o Coronel Cláudio Teixeira, comandante de Operações do Centro de Comunicações do Corpo de Bombeiros (Cobom), a unidade de resgate da corporação chegou ao local do atropelamento antes da ambulância do Samu.

"Quando o Samu chegou, a menina já estava imobilizada dentro da viatura nossa (dos Bombeiros). Os militares nossos já haviam feito todos os procedimentos de protocolo no socorro e se preparavam para deixar o local. Foi quando a Usa (Unidade de Suporte Avançado) do Samu chegou, cerca de 50 minutos depois do pedido de socorro", explicou.

Ainda segundo o Coronel Teixeira, o médico-chefe do Samu teria exigido que a menina fosse retirada do carro de resgate dos Bombeiros e fosse colocada na ambulância deles (Samu).

"A alegação era de que o carro deles tem estrutura completa, só que nesse caso a menina já estava em parada cardiorrespiratória há mais de 50 minutos. E nestes casos, se não for feito algo em 10 minutos, a chance de sobrevivência é de uma em 10 mil, então o correto seria socorrer a vítima na ambulãncia onde ela já estava acomodada", disse.

"E mais, na confusão um motorista do Samu atravessou a ambulância na frente do resgate dos Bombeiros para impedir a saída do nosso carro rumo ao hospital. Ele só retirou a unidade quando um policial rodoviário federal determinou que ele assim o fizesse", completou Teixeira.

Durante toda a discussão, que durou cerca de 15 minutos, a menina atropelada ficou dentro do resgate aguardando ser levada ao hospital. Ela não resistiu e morreu a caminho.

A versão da Secretaria Municipal de Saúde de Belo Horizonte, que cuida do Samu, é diferente. O gestor público do SUS em Belo Horizonte, Helvécio Miranda Magalhães Júnior, diz que considera a denúncia muito grave, e que uma denúncia será encaminhada ao Ministério Público. Além disso, ele afirmou ter determinado a abertura de uma sindicância.

A Secretaria explicou que a equipe da Unidade de Resgate (UR) 564, sob comando do sargento Vanderson, teria impedido o atendimento médico à vítima de atropelamento pela equipe médica do Samu, que já se encontrava no local do acidente (BR-381, próximo a Santa Luzia).

Ao tentar fazer o seu trabalho, o médico Hugo Leonardo Rodrigues teria sido ameaçado de prisão pelo comandante da UR, o que foi negado pelo comandante do Corpo de Bombeiros, Coronel Cláudio Teixeira.

"Diante da coação dos bombeiros militares", diz a secretaria, "a criança foi indevidamente transportada pela UR e chegou já sem vida ao Hospital Risoleta Tolentino Neves, cuja equipe tentou reanimá-la por 20 minutos".

Ainda segundo a Secretaria Municipal de Saúde de Belo Horizonte, a legislação brasileira proíbe terminantemente a atuação do paramédico, e portanto "os chamados procedimentos invasivos, indispensáveis em toda situação de emergência (risco de morte), apenas a ação da equipe médica é admitida. Neste caso não cabe regulação, que é a coordenação via rádio", informou.

A Secretaria diz que toda a atuação das duas equipes do Samu no caso está registrada por meio de gravações das transmissões via rádiofreqüência e também pelos relatórios padrão. E que toda a situação também foi acompanhada pela Polícia Rodoviária Federal (PRF), que tem a jurisdição sobre a rodovia.

O comandante do Corpo de Bombeiros informou que já abriu uma sindicância para apurar o que ocorreu. Ele disse que os três bombeiros que estavam na ocorrência prestaram depoimento.

Teixeira afirmou que mandou intimar nove testemunhas da confusão para também serem ouvidas. Um relatório da Polícia Rodoviária Federal será anexado ao inquérito.

Fonte: Terra

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