"Evidentemente que" e "em função de"

Evidentemente que o centenário relógio de Londres é o que é em função do que representa o poderoso império britânico na história do mundo moderno.”

O trecho selecionado para o comentário de hoje foi extraído do jornal “Gazeta de Alagoas”. Duas questões gramaticais são suscitadas por essa pequena passagem do texto.
A primeira delas diz respeito à comuníssima expressão “evidentemente que”. Do ponto de vista sintático, a construção é defeituosa porque a conjunção subordinativa integrante “que”, que deveria estar ligando duas orações, está posta entre um advérbio (“evidentemente”) e uma oração com formato de subordinada.
Ocorre que a oração só é subordinada porque depende sintaticamente de uma oração principal e, nesse tipo de construção, inexiste uma oração principal.
A recomendação, portanto, é que se omita o conectivo após o advérbio (“Evidentemente, o centenário relógio…”) ou que se transforme o advérbio em oração principal (“É evidente que o centenário relógio…”).
A outra questão advinda do fragmento escolhido refere-se ao uso da expressão “em função de”, que não tem valor causal. Uma pessoa pode viver em função da família, isto é, ter com ela uma relação de dependência.
Para exprimir causa, há várias locuções: por causa de, em virtude de, em razão de, devido a etc.
Veja, abaixo, duas sugestões de reformulação do texto:

Evidentemente, o centenário relógio de Londres é o que é em razão do que representa o poderoso império britânico na história do mundo moderno.

É evidente que o centenário relógio de Londres é o que é em virtude do que representa o poderoso império britânico na história do mundo moderno.

Thaís Nicoleti de Camargo, autora dos livros “Redação Linha a Linha” (Publifolha), “Uso da Vírgula” (Manole) e “Manual Graciliano Ramos de Uso do Português” (Secom- Governo de Alagoas), apresenta o programa “Português Linha a Linha” na TV Pajuçara.

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