Popó não brilha, mas consegue vitória por pontos e título mundial dos leves pela OMB
Não foi aquele Acelino "Popó" Freitas matador de outros tempos. Preferindo o centro do ringue à movimentação constante, o baiano de 30 anos, hoje longe da mistura explosiva de "noitada, bebida e drogas", venceu o norte-americano Zahir "King" Raheem, 29, por pontos, em Foxwoods Casino, em Mashantucket (EUA), para conquistar o título dos leves (até 62,1 kg) da OMB (Organização Mundial de Boxe).
A decisão, no entanto, não foi unânime. O primeiro juiz deu a vitória a Raheem, mas os outros dois apontaram Popó como o melhor, fazendo com que o Brasil, pela primeira vez na história, tenha dois campeões mundiais. O outro é Valdemir Pereira, o "Sertão", 31, dono do cinturão dos penas (até 57,1 kg) pela FIB (Federação Internacional de Boxe).
A mudança no estilo de Popó, agora mais técnico, não é novidade, mas a luta teve outras diferenças para o brasileiro. O "amuleto", sua mulher Eliana Guimarães, presente em suas principais vitórias, ficou no Brasil, cuidando do filho do casal (Acelino Popó, de sete meses) e se recuperando de uma cirurgia na vesícula. Além disso, ele estreou um novo modelo, com o calção estampando a bandeira do Brasil.
Este foi o quarto título mundial de Popó. Aos 23 anos, em 1999, ele se sagrou campeão na categoria super pena pela OMB. Depois, em janeiro de 2002, o baiano venceu por unanimidade o cubano naturalizado norte-americano Joel Casamayor pela unificação dos títulos dos super penas da OMB e da AMB (Associação Mundial de Boxe).
O boxeador retornou ao peso leve e, em 3 de janeiro de 2004, foi campeão da categoria pela OMB. No dia 7 de agosto do mesmo ano, perdeu por nocaute técnico no 10º round para Corrales e, dias depois, com fortes dores de cabeça, chegou a ser internado em Salvador por precaução.
Popó começou a treinar aos 14 anos e, como amador, fez 81 lutas e perdeu apenas três, conquistando em 1995 a medalha de prata nos Jogos Pan-Americanos de Mar Del Plata. Ele chegou a conquistar 29 nocautes em 29 lutas, uma marca superior ao início de carreira de Mike Tyson. Hoje, ele tem em seu cartel 38 vitórias (32 por nocaute) e uma derrota.
A luta
O primeiro assalto foi equilibrado, com os dois lutadores se estudando e tentando achar a melhor distância para encaixarem seus golpes. Popó permanecia mais fixo no centro do ringue e, faltando cerca de um minuto para o fim, ele foi atingido com uma cabeçada. Mas, quem se deu mal foi o norte-americano, que teve seu supercílio esquerdo aberto.
Os títulos e a derrota
1º título – 1999
Campeão dos super penas pela OMB ao nocautear o russo Anatoli Alexandrov
2º título – 2002 Vence o cubano naturalizado americano Joel Casamayor e unifica títulos dos super penas da OMB e AMB
3º título – 2004 É campeão dos leves da OMB ao vencer o uzbeque naturalizado alemão Artur Grigorian
Derrota – 2004 Perde por nocaute técnico para o americano Diego "Chico" Corrales em sua única derrota como profissional
4º título – 2006 Vence o norte-americano Zahir "King" Raheem por pontos e é campeão dos leves pela OMB
O segundo round foi totalmente diferente. O baiano acertou uma direita logo no início, bem em cima da lesão do adversário, e passou a dominar o combate. Para evitar os gols de Popó, Raheem se abaixava e ia em velocidade em direção do rival. O resultado foi uma série de cabeçadas no brasileiro, que reclamou com a arbitragem da atitude do oponente.
A "fase de estudo" retornou no terceiro assalto, quando os dois pugilistas evitavam entrar no raio de ação do oponente. Dessa vez, quem levou a melhor foi o norte-americano, que, no minuto final, acertou pelo menos dois golpes de esquerda no brasileiro.
O domínio de Popó voltou no quarto round. Faltando cerca de 45 segundos, ele acertou uma direita do rival, que em seguida foi ao chão, mas o árbitro não abriu contagem por achar que foi apenas uma queda. Nos instantes finais, na ânsia de aproveitar o bom momento, o baiano abriu a guarda e, em um contra-ataque, acabou levando um golpe certeiro de direita.
A luta ficou franca no quinto assalto. Popó partiu para o ataque e conseguiu encaixar uma seqüência de golpes. Em seguida, no entanto, foi atingido por um direto de direita, fazendo com que o combate ficasse mais uma vez equilibrado. Nos 10 segundos finais, o brasileiro mais uma vez aproveitou espaço na guarda do rival e encaixou um cruzado.
O sexto round foi marcado pelo equilíbrio, com os dois boxeadores permanecendo na defensiva. O fato curioso aconteceu depois de 1 minuto e 17 segundos de luta, quando o norte-americano literalmente agarrou o brasileiro e o atirou contra o chão, em cena que lembrou os combates de luta livre.
Depois de receber um "puxão de orelha" de seu treinador no intervalo, Popó voltou atacando e logo acertou duas direitas. A reação do rival veio após 1 minuto e 20 segundos, com uma esquerda no queixo do brasileiro. Faltando 50 segundos, o baiano tentou uma direita sem sucesso e, em um contragolpe, foi atingido com uma direita certeira de Raheem.
O oitavo round voltou a ser marcado pelo estudo, com os dois boxeadores tentando achar a distância certa para os golpes. A 30 segundos do final, o norte-americano acertou um forte cruzado de direita no brasileiro. Recuperado do susto, Popó foi mais consistente no nono assalto, se livrou das iniciativas do oponente e ainda encaixou pelo menos uma direita e um "upper" certeiros.
O panorama da luta não se alterou no 10º assalto, com os dois adversários não conseguiram acertar seus golpes. Mas, no round seguinte, Popó começou bem e, antes do primeiro minuto, já havia acertado duas vezes o rival. Faltando 20 segundos para o fim, o brasileiro mais uma vez atingiu o norte-americano, agora com um direto de direita.
No intervalo para o último assalto, o técnico perguntou a Popó se ele estava cansado. "Sou homem", respondeu o brasileiro, antes de voltar ao ringue e usar da "tática" do norte-americano, de travar o combate e segurar o adversário a todo o momento, para conquistar seu quarto título mundial.
