“Tentaram me derrubar no tapetão, como no futebol italiano”, diz Lessa

Aos 57 anos, o ex-governador Ronaldo Lessa (PDT) já passou por vários cargos públicos, antes de assumir o cargo máximo do Executivo de Alagoas por oito anos. Um dos responsáveis pela ascensão da esquerda ao poder, sempre se definiu como um homem de ideologias firmadas e que se lançou no campo político contra “as forças do atraso”.

Em entrevista ao Alagoas 24 Horas, Lessa se mostra cauteloso e fala de seu mais recente objetivo – a luta pela única vaga de Alagoas no Senado Federal -, faz um balanço da administração e afirma que sua maior obra enquanto governador do Estado foi o resgate da “auto-estima do povo”. “Hoje possuímos alagoanidade”, diz Lessa.

Para o ex-governador, o fato de estar com mais de 60% das intenções de voto, como apontam as pesquisas de opinião pública, não indica uma eleição fácil. “Respeito todos os meus adversários. Há dificuldades tanto em começar atrás, quanto sair na frente. A eleição é uma avaliação. O povo alagoano é quem dará a resposta se eu mereço estar no Senado Federal. Estou colocando meu nome à disposição. Agora, fico feliz, porque estas intenções de voto demonstram reconhecimento”, explica Ronaldo Lessa. Quanto ao Governo de Alagoas, o pedetista diz que, em oito anos, o Estado deu um salto de qualidade e preparou uma base funcional para o desenvolvimento pleno. “Espero que o senador Teotonio Vilela (PSDB) possa fazer isto”.

O senhor inicia a campanha largando na frente. Sai do Governo de Alagoas com uma boa aprovação popular e entra na campanha com uma diferença de mais que o dobro em relação ao segundo colocado, o deputado federal Thomaz Nonô (PFL). Como o senhor trabalha estas informações?

Eu comecei minha vida política no movimento estudantil, depois fui para o movimento sindical no Rio de Janeiro, onde exerci minha profissão de engenheiro. Na década de 80 me submeti aos partidos políticos e tive oportunidade de ser vereador e deputado estadual. Isto me ajudou a exercer os cargos do Executivo. O índice de aprovação quando saí da Prefeitura de Maceió também foi bom. Isto só me faz ficar satisfeito e atribuo este resultado a alguns pontos. O primeiro é gostar de fazer as coisas e ter vocação. O Executivo me atraiu e eu fiz com muito respeito e seriedade; é fundamental na vida da pessoa. Fazer o que você acredita e traz como razão de vida. Eu sou político por opção de vida. Um outro aspecto é que viver me ensinou que a democracia é o melhor caminho e a entendo como um valor universal. Então, quando assumi o poder, busquei a cumplicidade da sociedade para agir e determinar prioridades. Sempre trabalhei assim. Questionando-me qual o rumo que a sociedade queria.

Mas agir conforme os anseios sociais é enfrentar diversos interesses que permeiam a política…

É outro ponto. Apesar da política ser a arte do impossível não se faz ela só com sonhos. Eles são fundamentais porque é preciso ser capaz de sonhar, mas as necessidades de Alagoas passaram pela reunião de forças para construir. Você só constrói o novo se tivermos coragem de enfrentar os problemas que foram enraizados culturamente dentro da sociedade. Isto que cito é o que avalio como fundamental para continuar atraindo o respeito do povo, a credibilidade e a confiança.

O senhor sai da função de governador com a sensação de dever cumprido, ou faltou algo a ser feito?

Saio com esta sensação sim. E isto é que é mais gostoso. Você ser abraçado e receber cumprimentos no shopping ou em lugares públicos; e pessoas dizendo que o que você fez por Alagoas o credencia ao Senado. Claro, eu tenho clareza que ainda existe muito a ser feito por este Estado. Eu gostaria de ter concluído algumas coisas que deixei encaminhado, como a primeira etapa do Canal do Sertão. Eu gostaria de ter feito esta inauguração, mas não é de todo a frustração porque considero o Luis Abílio (atual governador pelo PDT) o nosso governo. Ele está dando continuidade a um projeto que iniciamos e sempre estivemos em harmonia o tempo todo.

O candidato do senhor ao Governo do Estado – senador Teotonio Vilela – disse que a Era Lessa foi importante porque deu funcionalidade ao Estado e agora era a hora do desenvolvimento. O senhor compartilha desta visão?

Eu diria que há coisas fundamentais. A funcionalidade é uma delas. Quando nós entramos as instituições não funcionavam de forma normal. Até o final de julho serão contabilizados 25 mil novos funcionários, então você vê como precisava de gente. Precisava funcionar e ter qualidade com respeito ao cidadão. O Estado se modernizou. Outro ponto importante da gestão, é difícil de definir, mas a gente sente. Foi o resgate da auto-estima e o retorno a alagoaneidade. O retorno do povo a sua terra. Quando tudo funciona há respeito e cria uma energia positiva. Diminui a impunidade, dentre outras coisas, como a campanha que fizemos pela paz. Contaminamos a sociedade por uma nova Alagoas, melhorando índices. Ainda há muito que fazer, mas temos que contabilizar as vitórias para ter fôlego e buscar fazer o que falta. Melhoramos no PIB, diminuímos a pobreza. Somos o 2° melhor do Nordeste em deficiência de fome. Mergulhamos na camada pobre, que era discriminada da sociedade. Demos ascensão à pobreza.

O senhor cita as conquistas que vê em seu governo, mas e o Ronaldo Lessa senador? Que projetos ele possui para Alagoas? Quais são as prioridades do senhor no Senado Federal?

Primeiro priorizar nossas dificuldades maiores. Alagoas precisa de uma estrada transfranciscana ligando Maragogi, Penedo e Piaçabuçu. Eu quero tentar trazer recursos para o lado Sul de Alagoas se desenvolver e esta estrada é fundamental. No Sertão, é não medir esforços para levar água com o Canal do Sertão, que é por gravidade, ou seja, mais barata. Eu quero discutir e participar de obras estruturantes para Alagoas. E claro, discutir questões nacionais que envolvem o Nordeste porque Alagoas está dentro dele. O Nordeste é discriminado. As leis são injustas. A lei tributária faz o Estado rico ficar mais rico e o pobre, mais pobre. Então eu quero lutar pelas desigualdades regionais. Eu quero ajudar o país. Acho que isto vai ajudar o desenvolvimento do Brasil o tornando mais justo. Eu tenho, também, propostas em nível nacional, como por exemplo a Educação. Aqui em Alagoas eu construí mais vagas do que a soma de todos os outros governadores juntos. Quanto você tem rumo e prioriza, você constrói. A Educação é um vetor de desenvolvimento. Um outro ponto é discutir a questão de segurança pública que não é responsabilidade só do governo. Todo mundo tem que estar envolvido.

O senhor acredita que a diferença de mais de 60% em relação o segundo colocado, facilita o caminho para o Senado Federal?

Eu tenho medo de usar essa expressão “fácil”. Eleição é eleição. Quando você está perdendo você tem um desafio a vencer. Quando se começa o processo eleitoral com favoritismo é um outro desafio que é manter esta diferença. Tudo é difícil. A gente não deve subestimar os adversários. Eu tenho respeito por todos eles e os trato com seriedade, porque a eleição é uma avaliação, principalmente quando já se têm mandatos. O Nonô tem mais mandatos que eu. A sociedade conhece a todos candidatos e é um julgamento.

Esta aliança branca leva o senador Renan Calheiros (PMDB) a lhe apoiar e reúne forças divergentes e que já disputaram entre si, como é o caso do Alberto Sextafeira e o José Wanderley, que foram candidatos a prefeito. Como o senhor vê esta união de diferenças?

Eu vejo isto de forma positiva. As eleições municipais tendem ser mais disputadas porque os partidos se sentem mais fortes. Veja bem, o PCdoB, PPS, PT montaram o governo conosco e depois saíram para disputa municipal. É uma tendência natural, porque eles se sentem com mais força para concorrer. Agora, tanto o PSDB quanto o PMDB já ajudaram neste processo de reconstrução de Alagoas. Estivemos afastados na municipal, mas dentro do próprio governo eles já tiveram. Há uma responsabilidade maior pelos interesses do Estado. É preciso que a gente trabalhe com visão de estadista. O Renan como interlocutor em Brasília é fundamental. O Abílio compreender que a capacidade política neste instante é do Téo Vilela, então ele renuncia e passa a apoiar o senador. Isto mostra a maturidade e a responsabilidade que a gente tem com Alagoas. Não podemos ficar procurando as diferenças, a gente tem que se acomodar junto às forças políticas mais próximas. Ninguém é sozinho, nem dono da verdade. É um equivoco. Era necessária esta aliança. Estes grupos juntos são importantes para garantir que as conquistas que fizemos serão mantidas e vão melhorar. O Téo tem uma história de serviços prestados a Alagoas. Isto são qualidades que o difere do adversário.

Ao mesmo tempo em que o senhor se uniu a forças que já estiveram em cantos opostos, se separou de pessoas que sempre caminharam junto, como por exemplo, o presidente da Assembléia Legislativa, Celso Luiz (PMN) e parte da bancada de deputados, que já foram aliados. Como o senhor analisa esta debandada?

Eu não vou tentar ser juiz porque é perigoso analisar o porquê deles terem feito isto. O fato é que fizeram e isto nos enfraqueceu. É importante enfrentar as adversidades. Estávamos contando com alguns deputados, inclusive com o Celso Luiz. Agora vivemos em um momento de informação constante, um mundo moderno, onde até o chamado analfabeto é informado. Há uma nova forma de relação entre a sociedade e o poder público. Então, apesar das perdas lamentáveis, nós podemos superá-las, porque a população é informada. Então há várias formas de você trabalhar isto politicamente.

Por que o senhor pediu a saída do juiz James Magalhães do processo eleitoral?

Veja bem, este homem está me processando. Como é que eu posso dizer que ele é isento para analisar as questões que me envolvem. Se o tribunal tiver juízo e bom senso tem que afastá-lo, a não ser que ele tire o litígio contra mim. Como é que ele vai me julgar. A informação que eu tenho, é que ele é um homem que tem rancor.

O senhor acredita então que a decisão dele foi pessoal?

Suponho que sim. As críticas que eu tinha que fazer eu fiz, mas ele foi mais fundo. Foi para uma ação penal. Então ele deveria estar impedido.

Por conta destas questões na Justiça, o senhor crê que hoje o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) é o seu maior desafio na luta pelo Senado?

Tudo é desafio. Este pessoal pensa que eu estou eleito. Mas não é assim. Voto tem que se buscar. O TSE é um desafio menor. Tentaram me derrubar no tapetão. Eles estão tentando me derrubar como cartola lá do futebol da Itália. Se olharem o passado de quem me acusa e se a Justiça tivesse tido vontade ou meio – não sei as razões pelas quais não fez – vai ver que não fui eu que abusei de nada. A sociedade sabe quem abusou economicamente. É até ruim para Alagoas esta coisa que o Tribunal Regional tenta fazer em cima de mim. Eu faço questão de me pautar pelo que era certo no Governo. Eu, enquanto candidato, fiz cartilha explicando aos secretários o procedimento. Não há caso de perseguição minha. Este julgamento contra mim foi uma inquisição. Uma coisa pobre. Eu disse que tinha um lado podre no Judiciário, como tem em todos poderes. Ao invés de investigar, eles se viraram contra mim. Eles fizeram como a ditadura, caçaram os líderes. Foi isto que o tribunal, num ato de infelicidade, patrocinou. O papel do Fernando Tourinho foi lamentável em insistir que eu não tivesse nem direito a recorrer. Graças a Deus está superado e estamos em outro tribunal, sem as emoções que aqui aconteceram. Já me deram dois votos contra, mas eu tenho absoluta certeza de que não cometi nenhum crime. O que me conforta é a confiança que a população tem em mim.

Como o senhor avalia estas denúncias feitas contra o deputado federal e candidato ao Governo de Alagoas, João Lyra (PTB), acusado de ser mandante da morte do tributarista Silvio Viana?

Você me desculpe, mas isto é uma coisa que todo mundo sabia. Agora, a Justiça daqui arquivou tudo antes. A procuradoria mandou para uma esfera maior. Ele vai ter que responder em outros tribunais. O caso da morte do militar foi arquivado e sequer quebrou o sigilo. Aqui há uma redoma em torno de João Lyra. Não foi feito nada quando ele foi acusado de ser o mandante do crime do militar. Este do Silvio Viana se arrasta sem se chegar nele. É a dificuldade que se tem de se tocar nos poderosos aqui em Alagoas. Está, agora, em outra esfera, que talvez tenha menos influência, do que aqui em Alagoas.

Como o senhor analisa estas ações do TRE na luta contra a compra de votos em Alagoas?

Eu fico feliz. Isto me causa uma sensação de alivio, pois o órgão ao qual fiz tanta crítica, agora se faz tão capaz. Se o fizer, assim como critico, irei aplaudir. E com toda a lealdade que fiz a crítica, eu irei a público, na hora que o TRE tomar as medidas para que Alagoas ande no caminho da paz e da honradez para aplaudir.

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