Uma cerimônia religiosa xiita em Bagdá se transformou em banho de sangue neste domingo, quando homens armados abriram fogo contra uma multidão de peregrinos, com um saldo de 16 mortos e mais de 240 feridos, um ano depois de uma avalanche humana durante a mesma celebração ter matado 965 pessoas.
Durante toda a manhã foram ouvidas explosões e disparos de armas de fogo na capital iraquiana. As ruas de Bagdá foram tomadas por centenas de milhares de xiitas, que seguiam para o mausoléu do imã Musa al-Kazim, cuja morte como mártir, no ano 799, é lembrada anualmente com uma importante peregrinação a Bagdá. Os peregrinos foram vítimas de ataques terroristas executados pelos takfiris (extremistas sunitas), informou o ministério da Saúde, que registrou 16 mortos e mais de 240 feridos em vários atentados.
As rígidas medidas de segurança adotadas nos últimos dias em Bagdá, com a previsão da presença dos fiéis xiitas, não conseguiram impedir os ataques que, segundo fontes do governo citadas pela televisão pública Al-Iraqiya, aconteceram nos bairros de Al-Fadhel, Al-Haifa e Al-Salej, centro da capital. "Aconteceram alguns disparos contra civis em Rusafa (leste de Bagdá), mas a situação está sob controle", declarou Qassem al-Mussawi, chefe do centro de operações do gabinete do primeiro-ministro iraquiano, Nuri al-Maliki.
Também foram registrados tiros no bairro de Al-Jilani. A marcha dos peregrinos teve que ser desviada sem que isto impedisse novos disparos contra a multidão quando os fiéis chegaram à altura de um cemitério sunita. Os tiros provocaram a morte de um policial. Outra área da ‘maré’ de peregrinos estava protegida pelas milícias armadas do Exército de Mehdi, do clérigo radical Moqtada al-Sadr.
Os ataques lembram a tragédia registrada na peregrinação de 2005, quando 965 peregrinos morreram afogados, asfixiados ou pisoteados em uma avalanche humana na ponte de Al-Aimah, que dá acesso ao mausoléu. O boato de que terroristas estavam entre a multidão provocou a catástrofe.
No entanto, os atentados e as ameaças não impediram a afluência a Bagdá de centenas de milhares de homens, mulheres e crianças com bandeiras verdes, amarelas e laranjas, além do Alcorão nas mãos. A maioria das mulheres vestiam o tradicional hábito negro xiita. As forças iraquianas e americanas intensificaram ainda mais as medidas de segurança em Bagdá para proteger os peregrinos.
Os fiéis chegaram durante a semana à capital, depois de caminhadas de centenas de quilômetros descalços, segundo a tradição, e de terem desafiado a onda de assassinatos e ataques entre xiitas e sunitas que afeta todo o Iraque.
Militares e habitantes de Bagdá ofereceram água e alimentos aos peregrinos na caminhada até o mausoléu, erguido em comemoração ao sétimo dos 12 imãs xiitas na margem oeste do rio Tigre, uma área de maioria sunita.
O chefe da polícia nacional iraquiana, o general Adnan Thabit, declarou à AFP que os peregrinos tiveram os movimentos limitados a apenas duas estradas intensamente vigiadas ao longo do rio.
O trânsito de veículos foi proibido no centro de Bagdá da tarde de sexta-feira até a tarde de domingo. Apenas duas pontes que unem o leste da cidade, majoritariamente xiita, ao oeste, sunita em sua maioria, permaneceram abertas.
O premier Nuri al-Maliki advertiu no sábado que aqueles que usam as mesquitas para incitar a violência sectária serão perseguidos como se fossem terroristas, independente da confissão. A situação em Bagdá é tensa desde o início de 2006, com ataques e atentados diários contra os civis xiitas, ao mesmo tempo que esquadrões da morte desta confissão assassinam sunitas, a etnia minoritária no Iraque.