A estudante de Jornalismo do Cesmac, Patrícia Machado, veio-me entrevistar para um trabalho sobre o futuro da imprensa escrita e foi logo disparando a pergunta:
– Você acha que o jornal impresso vai se acabar depois do advento da Internet?
Não, não acho. Isto não vai acontecer – respondi. Mas, com certeza, somente vão sobreviver os jornais que souberem trabalhar com o factual.
Por exemplo: às 19 horas a Rádio Gazeta divulgou a pesquisa de boca-de-urna dando a vitória de Téo e de Collor; muito antes da meia-noite todos já sabiam do resultado oficial; ninguém mais em Alagoas tinha dúvida sobre quem venceu a eleição.
No dia seguinte, a manchete do jornal: “Téo se elege governador”. É como se o Tribunal Regional Eleitoral e toda a sociedade estivesse apenas aguardando que o jornal fosse às ruas com semelhante “novidade”.
Nesse caso, o leitor (e eleitor) se sente ultrajado; anunciando 24 horas depois o que todos souberam 24 horas antes, não tem jornal que sobreviva – vira bula de remédio; só quem lê é o paciente ou a família.
Disse à futura jornalista que os meios de comunicação existem para atender a cada um dos nossos sentidos – exceção do olfato – e que a importância de cada um é diretamente proporcional aos números de sentidos que contemple.
A televisão era o veículo mais completo até o advento da internet; a televisão contempla a audição, a visão e o tato – o jornal contempla a visão e o tato; o rádio ao tato e a audição. A Internet contempla os três: tato, visão, audição e tem os recursos inigualáveis:
1) A televisão, e os demais veículos, escolhem o que você vai assistir ou ler; na Internet você é quem escolhe o que quer ver ou ler.
2) A televisão, e os demais veículos, lutam contra o limite de espaço e tempo; na Internet espaço e tempo são sem limites.
3) A televisão, e os demais veículos, têm limites de alcance por questão geográfica, tecnológica ou de restrição da legislação; na Internet esse limite é do tamanho do mundo e não há controle algum.
O IBGE divulgou que Alagoas detém o menor índice de acesso à Internet no País, algo em torno de 0,7% ou menos de 1% da população alagoana tem computador em casa e acessa diariamente à rede mundial de computadores.
É pouco; é verdade, mas é quase o dobro da tiragem dos três jornais diários somados juntos. Arredondando os números, vamos lá: Alagoas tem 3 milhões de habitantes e 0,7% representa 21 mil pessoas acessando a internet diariamente.
Nem aos domingos a soma dos três jornais diários se iguala ao número de internautas. Imaginem o registro do site www.alagoas24horas.com.br acerca da matéria sobre o seqüestro da criança de 2 anos lá no Eustáquio Gomes.
A matéria postada às 11 horas da segunda-feira atingiu às 11 horas da terça-feira o número de 8.778 acessos em 24 horas. Transformando 24 horas em minutos tem-se: 1.440 minutos, que divididos pelo número de acesso (8.778) é igual a 6 (arredondando para menos) acessos por minuto.
Vale ressaltar que o computador é um dos mais cobiçado objeto de consumo; é só melhorar a renda que a primeira providência é adquirir um.
A universitária Patrícia Machado vem dessa geração de futuros profissionais ressabiados com os jornais impressos, igual ao leitor comum que, com justa razão, se recusa a desfalcar o bolso para pagar por um periódico que, na terça-feira, lhe “informa” sobre o final de semana como se fosse a maior das novidades.
Não deixa de ser preocupante o futuro do jornal impresso, mas não é porque vão desaparecer – e isto não vai acontecer; é porque eles continuam ruins mesmo.
É preciso pensar no seguinte: quando a sociedade não sente falta do seu jornal, é porque o jornal não publicava informação – só publicava notícia.