O momento cívico com outra percepção

Rosalvo Acioli/ AcervoRosalvo Acioli

Rosalvo Acioli

A constituição do Brasil como atualmente a sociedade se defronta – por melhor ou pior que isso possa ser – é reflexo de notórias personalidades alagoanas que interferiram neste processo. Afinal, além de serem do Estado os atuais presidentes da Câmara Federal e do Senado, nesta terra foi onde nasceram os primeiros presidentes da República Brasileira, proclamada em 1889.

Se esses dois alagoanos – Marechais Deodoro e Floriano Peixoto – foram os primeiros presidentes do país, “alguma coisa” em memória a estas pessoas já deveria ter sido construída há muito tempo, entretanto nunca houve nenhum monumento no Estado que representasse esse acontecimento.

Contingência ou não do destino, o Memorial da República teve seu lançamento ano passado, dia 15 de novembro, atraindo os figurões da política nacional e olhares do público local para o Estado que recebe agora o reconhecimento de “berço da República”.

Dentre os olhares, o jornalista Rosalvo Acioli não se ateve apenas ao registro fotográfico do evento, e tinha planejado um ano antes expor suas fotos, que aliam o caráter fotojornalístico a partir de uma percepção estética apurada. A idéia da sua exposição “Tributo à República” vem da época da inauguração da pedra fundamental do Memorial, no dia 15 de novembro de 2004, que contou com a presença do presidente Luiz Inácio (PT).

Após um ano de espera, o Memorial é inaugurado e Rosalvo mais uma vez fez-se presente para a conclusão de sua obra. O vice-presidente José Alencar, então ministro da Defesa, foi quem representou a corte, dentre os inúmeros políticos e atrações do momento cívico.

O autor das fotos compreendeu que não seria preciso fazer fotos de palanques, de momentos de cerimônia – isso outros fotógrafos já estariam incumbidos. O que vale na exposição é justamente o clique exato da máquina em momentos como o do “Marechal Deodoro acenando para os aviões” – instante em que a estátua do homenageado aparece em primeiro plano, com o chapéu em sua mão dando a idéia de que acena para os aviões da esquadrilha da fumaça que aparecem ao fundo.

“A fotografia documental, seja de matérias especiais, seja de coberturas culturais, depende quase sempre dos mesmos critérios técnicos, mas deve expressar o estético, dependendo do senso artístico do fotógrafo. Thomaz Farkas, Evandro Teixeira, Walter Firmo e Sebastião Salgado, entre outros, são especialistas nos temas documentais”, comentou sobre o caráter de seu trabalho e sobre as suas principais influências na arte da fotografia.

A mostra ficará em cartaz entre 29 de novembro a 12 de dezembro, e é um registro histórico na ocasião destas duas solenidades. As fotos, em cores e em tamanho 25x38cm, se concentram na visão de Rosalvo, despreocupada muitas vezes com o que acontecia durante a solenidade para o enquadramento de outros acontecimentos mais “pertinentes” para o fotógrafo. Como em um dado momento no qual a linha formada pela disposição dos soldados na imagem tem um significado mais importante para Rosalvo ao motivo por estarem situados daquela forma – no caso da fotografia em que o presidente passa junto ao governador Ronaldo Lessa.

Momento

Apesar de se apresentar imparcial – rezando a cartilha do “bom jornalismo” pregado pela academia –, para Rosalvo o Governo do Estado, ao construir o monumento, “reafirmou as tradições republicanas e a importância das figuras dos Marechais Deodoro da Fonseca e Floriano Peixoto.

E procuro com essa exposição homenagear o País, nas comemorações de aniversário da Proclamação da República e da inauguração deste Memorial”, disse, revelando o motivo, inclusive, de ter aguardado um ano para mostrar a publico suas fotografias. “Achei mais coerente realizar a exposição nesse momento”.

Foi também por esse motivo que a equipe de cerimonial do Governo do Estado, ao tomar conhecimento desse registro fotográfico, se interessou a ponto de incluir neste ano na programação das comemorações dos 117 anos da República. O Banco do Nordeste do Brasil é o outro parceiro na exposição.
Entusiasmado com a recepção do público, ele gostaria que as fotos não fossem guardadas em seu arquivo ao término dessa exposição: “gostaria de doar as fotos caso o governo estadual tenha interesse em deixá-las como permanente no Memorial à República”.

Obra

Seu interesse pelo fotojornalismo surge na adolescência, quando ganha dos pais sua primeira máquina; inicialmente como o fotógrafo dos festejos familiares, passou então a andar pela cidade e registrar tudo que achasse interessante ao seu olhar. E esse interesse fez com que, ao ingressar no curso de jornalismo da Universidade Federal de Alagoas (Ufal), sua percepção para essa área da fotografia aguçasse ainda mais.

Com esse acervo de fotos em mãos, Rosalvo realiza sua primeira exposição, “Maceió e Outros Temas”, em 1990, no Palácio Floriano Peixoto, por ocasião das comemorações dos 135 anos da invenção da fotografia. Dentre outras exposições, destacam-se “Personalidades”, com duas edições – em 2002 e 2003 –, no Shopping Iguatemi, com fotos de pessoas de renome estadual e nacional da administração, da educação, da ciência, da arte e da cultura; e seu último trabalho, “Mercado Público”, em 2003, no Palácio Floriano Peixoto.

Essa última exposição é justamente o oposto das anteriores: procura, através de um trabalho etnográfico de imersão em uma realidade – a dos trabalhadores do Mercado Público de Maceió –, registrar as pessoas “comuns”, os trabalhadores que montam suas bancas a cada dia para garantir o sustento da família.

Rosalvo sempre segue em seu trabalho, como mesmo define, em tentativa de “aliar o estudo à experiência, sempre buscando o inusitado em diferentes concepções, com predominância à dispersão e à metalinguagem”. Além das exposições, seu trabalho como fotojornalista já pôde ser visto no Jornal de Hoje, Jornal de Alagoas, Gazeta de Alagoas e O Jornal.

Para Rosalvo, a fotografia jornalística é a “mais complexa e a mais importante. Requer do fotógrafo atenção e preparo técnico redobrados. No jornalismo, o fotógrafo depende dos fatos e dos acontecimentos circunstanciais a que está determinado a registrar. A fotografia ilustra, compõe e esclarece a notícia, a matéria, a reportagem e a publicidade nos meios de comunicação impressa e eletrônica”.

Se a República ou o Memorial não for de agrado das pessoas, que pelo menos fica válida a visita à exposição de alguém que enxergou o tal momento cívico de outra maneira.

Serviço

O quê: Exposição “Tributo à República”
Quando: de 29 de novembro a 12 de dezembro
Onde: Museu da Imagem e do Som de Alagoas (Misa) – Jaraguá
Quanto: Entrada Franca
Informações: 3221-6545 / 9983-7659

Fonte: Vitor Braga

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