A Turquia foi abalada sexta-feira à noite por uma tentativa de golpe de estado levada a cabo por elementos do exército que, após um momento inicial, acabou por ser abortada pelas tropas leais ao presidente Recep Erdogan.
As forças leais a Erdogan abateram 104 militares revoltosos, assegurando que outros 1.563 foram detidos, indicou hoje o exército fiel ao regime.
Numa declaração à televisão oficial turca, o general Umit Dundar, chefe do Estado-Maior interino das tropas leais a Erdogan, confirmou também a morte de outras 90 pessoas – dois soldados, 41 polícias e 47 civis -, elevando para 194 o total de vítimas mortais da sublevação, entretanto abortada.
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“Caíram como mártires”, sublinhou Dundar, referindo-se às 90 vítimas mortais.
Entretanto, no Twitter, o presidente turco apelou à população para se manter nas ruas, para precaver uma eventual onda de violência.
Erdogan, aliás, acabou também por indicar que a “traição” dos golpistas constituiu uma “dádiva de Deus” e que vai permitir “limpar o exército”, com a agência noticiosa pró-governamental Anadolu a dar conta de que já foram detidos 1.563 militares revoltosos.
O presidente turco, que se encontrava de férias num hotel em Marmaris, estância turística na costa do Mar Egeu e que foi bombardeado esta madrugada pouco depois de ter saído do edifício, culpou pelo golpe de estado os apoiantes do seu arqui-inimigo, Fethullah Gülen, um imã exilado há anos nos Estados Unidos.
O movimento que apoia Gülen (Hizmet) já condenou o golpe, num comunicado em que sublinha que “há mais de 40 anos que Fethullah Gulen e o Hizmet têm defendido e demonstraram o seu compromisso com a paz e a democracia”.
Em 2013, o fundador do poderoso Movimento Gülen, com milhões de seguidores na Turquia, entrou em ruptura com Erdogan e o seu Partido da Justiça e Desenvolvimento (AKP, no poder desde 2002), que apoiou na fase inicial da sua ascensão.
Seguiu-se uma dramática luta pelo poder e o início da repressão ao Hizmet no país – acusado por Erdogan de pretender construir um “estado paralelo” – através do encerramento de dezenas de escolas e processos judiciais contra figuras políticas e militares associadas a este movimento.
Num primeiro momento, poucas horas após o início da rebelião militar, o exército sublevado indicou ter o controlo do país e estabelecido a lei marcial, ao mesmo tempo que acusavam Erdogan de ser “traidor” e de ter estabelecido um “regime autoritário de medo”.
Num comunicado lido na televisão turca TRT, o exército turco, ainda sem um rosto – o primeiro-ministro turco, Binali Yildirim, disse que à frente do golpe estão cerca de 40 comandantes militares, incluindo um general que entretanto morreu no decurso da tentativa de golpe – assegurou então que o país seria governado por uma denominado “Conselho de Paz” para dar “a todos os cidadãos, todos os direitos” e “estabelecer a ordem constitucional” e “restaurar a democracia”.
Sob as ordens de Erdogan, “todas as instituições do estado começam a ser desenhadas com propósito ideológico e o império da lei secular foi, de facto, eliminado”, prossegue o comunicado, lido, sob imposição dos militares revoltosos, por todas as emissoras, e em que prometeu “julgar” todos os responsáveis.
“O exército assumiu totalmente o poder para restaurar a democracia. Todos os nossos acordos internacionais estão em vigor. Esperamos manter as boas relações com todos os países”, refere, no comunicado, o Estado-Maior do Exército.
Cerca de quatro horas depois das primeiras informações, os Serviços de Inteligência Turca (MIT) anunciaram que a tentativa de golpe de estado fracassou, admitindo, porém, que ainda persistem algumas bolsas de resistência de revoltosos.
A tentativa de golpe de Estado foi já condenada por várias das principais organizações internacionais, como a União Europeia (UE) e a NATO, bem como pelos Estados Unidos, Rússia, França, Irão e Grécia, que apelaram à calma e ao regresso à normalidade constitucional.
O ministro dos Negócios Estrangeiros português, Augusto Santos Silva, afirmou hoje que não existem “notícias preocupantes” sobre portugueses na Turquia, salientando que a embaixada lusa em Ancara “está a trabalhar activamente” e que houve “contactos” por parte de portugueses com a representação diplomática na capital turca.
Santos Silva disse que Portugal condena a violência contra as instituições democráticas na Turquia e manifestou apoio às instituições democráticas.