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Luis Vilar

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Alagoas interligada por números assustadores

Um cálculo simples com base em estudos do economista Cícero Péricles mostra o quanto o desvio de verbas investigado pela Polícia Federal na Casa de Tavares Bastos foi representativo para manter o quadro de estagnação econômica do Estado de Alagoas. A Operação Taturana – desencadeada em dezembro de 2007 – apontou um desvio de mais de R$ 300 milhões. Levando-se em consideração que nos últimos anos o Banco Cidadão ajudou a 20 mil famílias emprestando R$ 10 milhões, pode-se concluir que se o dinheiro desviado pelos deputados estaduais indiciados fossem aplicados em favor do povo alagoano, cerca de 600 mil famílias seriam beneficiadas.

Atualmente, em Alagoas, existem pouco mais de 800 mil famílias, levando-se em consideração já os clãs que concentram a maior parte do Produto Interno Bruto (PIB) alagoano. Ou seja, sobraria dinheiro, já que nem todas as famílias – na teoria – não necessitariam dos empréstimos para melhorar suas condições. Neste sentido, o quadro vivido em Alagoas – onde mais de 1,5 milhão de habitantes vivem abaixo da linha de pobreza – é agravado pela malversação do erário e ausência do poder público nos bolsões de miséria.

Para Péricles, esta situação em específico mostra a ausência histórica de políticas públicas voltadas a mudar um quadro histórico “que não apresenta mais números novos”. “Não há mais o que falar da pobreza em Alagoas. É um dos piores estados da federação de fato. Mas, os números por si só não geram nenhuma reflexão. É preciso se humanizar estes números para que a sociedade tenha consciência do que é a realidade sofrida alagoana, diante da concentração de renda e da pouca diversidade econômica do Estado de Alagoas. Este cálculo feito a partir do que a PF disse que foi desviado é assustador”, coloca o economista.

Apesar de ter passado mais de 12 anos nas mãos de forças ditas socialistas – na gestão de Ronaldo Lessa (PDT) e Luís Abílio (PDT) – também pouco se evoluiu em Alagoas. Cícero Péricles coloca que os números apresentados em pesquisas recentes não mostram nenhuma novidade. “Maceió continua tendo áreas de pobreza extrema onde inexiste o poder público e não há presença econômica. Não há nenhuma atividade. Um exemplo disto são estudos recentes das famílias que moram em favelas no entorno da orla lagunar. Lá existem ruas sem banheiro, condições degradantes. Se falarmos apenas que há locais sem saneamento, a população que lê jornais sequer tem a dimensão disto”, coloca Péricles.

Em termos percentuais, 22% da população alagoana não possui renda alguma, 48% recebe apenas um salário mínimo, ou menos que isto. Receber mais de cinco salários é um privilégio de 19% da população.

Levando-se em conta a remuneração da classe política – aquela que seria responsável por mudar este quadro – muitos deles se encontram nos 19%. Estes salários dos agentes públicos são astronômicos quando comparados ao da maioria da população. Porém, não é deles que vem a riqueza nababesca que alguns desfrutam.

As fontes de renda do Estado de Alagoas mostram muito bem o quadro da concentração. A primeira fonte econômica é o Governo Federal, por meio de verbas que chegam com convênios, fundos de participação, dentre outras. Na sequência, o Estado se mantém com a atividade agroindustrial e com os pequenos negócios, tanto nas indústrias de menor porte, quanto no comércio. Neste quadro, as usinas de cana-de-açúcar – uma das principais atividades econômicas – correspondem a 20% das fontes de renda do Estado, segundo Péricles.

Porém, em 2008, Alagoas recebeu mais de R$ 7 bilhões do Governo Federal. Isto representa três vezes mais do que a receita do setor sucroalcooleiro, o que demonstra a dependência do Estado. Ainda assim, algumas poucas famílias, ligadas às castas políticas em muitos casos, desfrutam de um mercado de luxo que se mantém, com carros caros e outros mimos. Uma riqueza margeada pela existência de 380 favelas que abrigam metade da população do Estado em condições de subsistência. Um dado recente mostra – só em Maceió – 400 mil pobres.

Em outras palavras, os estudos de Péricles mostram que 1% da população alagoana acaba ficando com mais de 22% das riquezas do Estado. Isto em um Estado que tem como Produto Interno Bruto que é o antepenúltimo do Brasil. No entanto, o índice assusta ainda mais se for feita a correlação com a renda per capita, que é de pouco mais de R$ 4 mil. O que cada alagoano poderia estar recebendo se o bolo fosse dividido igualmente. Porém, pelo menos como aponta a Polícia Federal em diversas operações realizadas no Estado, o dinheiro escorre por onde menos se espera. Resultado: o primeiro lugar em rankings que medem homicídios, pobreza, dentre outras mazelas.

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