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Luis Vilar

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Blog entrevista Humberto Gessinger

DivulgaçãoGessinger: "Não penso nos fãs na hora de compor. Não quero que o artista que gosto pense em mim"

Gessinger: "Não penso nos fãs na hora de compor. Não quero que o artista que gosto pense em mim"

O compositor Humberto Gessinger – líder dos Engenheiros do Hawaii – deu um tempo na banda que consolidou diversos sucessos nos anos 80, 90 e 2000, como Toda Forma de Poder, Infinita Highway e Eu que Não Amo Você. Depois de dois recentes acústicos, o músico – que é odiado pela crítica e amado pelos fãs – parte para um projeto duo, juntamente com o músico gaúcho Duca Leindecker, vocalista e letrista da Cidadão Quem.

O projeto chama-se Pouca Vogal e as músicas do duo estão disponibilizadas – de forma gratuita – no site www.poucavogal.com.br. Os dois compositores lançam ainda um DVD/CD ao vivo no segundo semestre, com as músicas do Pouca Vogal, Engenheiros do Hawaii e o Cidadão Quem em um formato diferente do que ambos trabalhavam em suas bandas. Em entrevista exclusiva ao Alagoas24Horas – por telefone – Humberto Gessinger e Duca falaram sobre o Pouca Vogal e sobre outros assuntos. Na primeira parte, a entrevista com Gessinger. Amanhã publico aqui o diálogo com Duca Leindecker.

É um presente do Alagoas24Horas para os fãs dos Engenheiros do Hawaii e do rock brazuca.

Luis Vilar: que sensações têm provocado o Pouca Vogal, já que de certa forma é um novo início, depois de 25 anos de estrada com os Engenheiros do Hawaii?

Humberto Gessinger: Talvez o formato do Pouca Vogal seja mais diferente para as pessoas do que para mim. Os Engenheiros do Hawaii já tiveram muitos finais e inícios em sua história, né? Foram as trocas de formações, enfim…O que para mim tem sido diferente no Pouca Vogal é o formato e o ambiente que é bem diferente do que eram os Engenheiros. Não vejo como um reinício e tal, porque tem a nossa história ali – a minha a do Duca – que é presente no formato, mas a linguagem nova do Pouca Vogal é que tem sido o grande diferencial. Tocar em ambientes menores também, que tem sido super legal para mim.

LV: Os engenheiros é uma banda que se destaca pela relação que mantém com os fãs. Foi construída uma linguagem que transformou a banda em algo maior que simplesmente música e letra. Como você tem sentido esta relação com os fãs?

HG: Sim, é. Se tem uma coisa que eu me orgulho é do pessoal que acompanha a banda. Mas, eu tenho evitado cada vez mais pensar nos fãs como se todos fossem iguais sabe. Eu acho que cada fã tem acompanhado do seu jeito e tal. Tem aqueles que são mais “de fé”, que tão gostando muito das novas músicas. A linguagem com o pessoal que tem acompanhado tem sido parecida com a relação que se tinha com os Engenheiros do Hawaii, claro que não se pode comparar com a forma como isto foi construído ao longo da banda, pois o Pouca Vogal já nasce em meio uma história. Tem aquele fã que tem acompanhado meio que para vê qual é ainda. Mas, tem sido boa esta relação que a gente está vendo.

LV: Você é um artista autoral e possui uma forma de escrever única. Como é o processo de composição de Humberto Gessinger?

HG: É! O texto eu acredito que ainda seja o mesmo. É a mesma forma de escrever. As letras sempre foram muito parecida no seu formato, seja no Engenheiros do Hawaii, seja no Humberto Gessinger Trio ou agora no Pouca Vogal. O que muda mesmo é o ambiente e o que você vai descobrindo dentro dele. Eu tenho, por exemplo, tocado alguns instrumentos novos. Minha forma de compor tem se encaixado com a do Duca, que vê a coisa mais musical, enquanto eu sempre fui mais verbo mesmo. Não sei se esta continuidade é uma virtude ou um defeito, mas eu só sei compor assim, mesmo antes dos Engenheiros. Os artistas que eu gosto sempre apresentaram esta continuidade. O que eu acredito mesmo é que você tem que fazer aquilo que você acredita, saca? Este é o lance.

LV: Você diria que chegou ao melhor momento de sua carreira? Em minha opinião as letras que você tem escrito elas mostram isto, ou seja, você mantém uma obra sem deixar espaços para a nostalgia?

HG: Do ponto de vista pessoal é o meu melhor momento, sem dúvida. Pelo menos é o que eu acredito, pois escrevo menos, mas gosto bem mais do que eu escrevo. Há quem não concorde e tem todo o direito, pois é uma visão sobre a arte e eu sou detentor de uma destas visões, que é a minha. Eu tenho aprendido muito com este formato. Acho que não há espaço para nostalgia. Eu tenho notado que as velhas canções tem dialogado muito bem com as novas canções nos shows. Há artistas que acabam virando gigolôs da própria história. Tenho medo da inércia, então mesmo no risco de perde fãs, eu acredito que o artista tem a obrigação de fazer o que tem dentro de si. Eu não penso nos fãs na hora de compor. Eu não quero que os artistas que eu gosto pensem em mim na hora de fazer alguma coisa. Nem quero que os políticos pensem em mim na hora de expressarem o que pensam. Eu quero que eles coloquem aquilo que eles acreditam e pensam para vê se tem alguém na mesma sintonia ali. É mergulhar dentro de si.

LV: As suas letras sempre tiveram uma forte referência à literatura. Muitos fãs costumam inclusive ler as obras citadas, como Albert Camus, Sartre, Hermann Hesse. Como se dá esta fusão dentro do processo de composição?

HG: É verdade, sempre gostei muito de ler. Mas eu não busco estas referências para colocar nas músicas como notas de rodapé, ou para brincar com certos jargões do POP. Como leio bastante, algumas coisas acabam se encaixando naturalmente dentro do contexto das canções e acabam surgindo. Eu não acho bom, nem ruim estas referências. Só não acho legal quando vira nota de rodapé. Não gosto de buscar por buscar, tem que haver o contexto quando este contexto surge. Estas referências elas entram naturalmente quando surge a canção dentro de ti.

LV: É possível novas músicas do pouca vogal, além das oito inéditas? Você tem composto muito nesta fase?

HG: Eu não tenho pensando em nada para o futuro a este ponto. Quero agora que o Pouca Vogal se consolide, sem ser visto apenas como um projeto paralelo. Acredito em novos trabalhos dentro deste formato duo, mas se vai ser em continuidade, ou se as bandas vão voltar e depois dá um tempo de novo, ou se o Pouca Vogal vai ser paralelo às bandas, eu sinceramente não sei. Não sei como isso pode se dá, o que sei é que estou descobrindo e quero vê até onde posso ir. Lembra-me como quando era compor no formato trio, pois você também tinha que escrever pensando no formato. Isto tem me levado a escrever, pois há uma semelhança com o formato duo, ao pensar no ofício também.

LV: Você sempre sofre uma perseguição implacável por parte de alguns críticos, mas consolidou uma banda amada pelos fãs. Incomoda-te esta relação turbulenta?

HG: Cara, o ideal seria que todo mundo te amasse, né (risos)? Mas, se isto não acontecer que a segunda melhor coisa a acontecer é que você não passe de forma indiferente. Eu me fechei para o mundo externo neste processo de composição, sem pensar muito nas questões estéticas, mercado…Eu fui atrás do que sou, do que acredito e do que imaginava. Uma alienação consciente, se é que existe isto (risos). Acho que isto trouxe esta reação, mas fez com que a nossa estrada fosse mais longa. Hoje em dia não consigo dissociar o meu trabalho do ambiente no qual ele se construiu.

LV: Quais projetos para os 25 anos de Engenheiros do Hawaii? Você chegou a falar em uma releitura do Longe Demais das Capitais com a roupagem do Pouca Vogal? Ainda se pensa nisto?

HG: Eu estou preparando um livro com as letras e alguns comentários sobre elas. Eu queria uma história recontada do ponto de vista emocional. Eu penso mais na releitura do primeiro disco que é o Longe Demais das Capitais, dentro deste formato, mas é algo que estamos vendo ainda. O que posso dizer é que os Engenheiros criaram um universo, como um país imaginário, que você vai para dá uma pausa (risos). Os Engenheiros do Hawaii possuem substância em sua história. Afinal, o que é uma banda? Eu não sei. Uma banda são os caras tocando, é o pessoal que ta ali escutando, são os discos. Não sei. Não vejo esta história sendo contada do ponto de vista racional. Mas, deve ser lançando um livro com as letras e alguns comentários sobre elas.

Quem quiser conhecer as novas canções: www.poucavogal.com.br

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