Blog

Usuário Legado

Todas as postagens são de inteira responsabilidade do blogueiro.

Crianças morrem antes de virarem mendigos

Na sede do Erê, uma ONG que cuida de meninas e meninas de rua, no bairro Vergel do Lago, em Maceió, as marcas de tiro na porta indicam que o lugar é dominado pelo tráfico de drogas. E a disputa envolve o crack. O coordenador, Átila Vieira, perdeu as contas de quantos meninos ou meninas enterrou, envolvidos com a droga ou julgados e condenados pelo “tribunal do tráfico”. Por saber demais, Átila já foi ameaçado de morte várias vezes por autoridades alagoanas. “É porque a riqueza do crack não fica na periferia de Maceió. Ela está nos apartamentos e carros de luxo, na orla da capital, além de financiar campanhas eleitorais”.
Em 2002, publicou um trabalho, “Ruas Lavadas de Sangue”. Denunciava o assassinato de crianças e jovens, nas ruas do Centro de Maceió. “Pouco mudou. Próximo ao Palácio do Governo, a rotina é a mesma”. Em cinco anos, o coordenador do Erê viu meninas e meninas saíram da fase “cheira cola” para “craqueiros”, os consumidores de crack. Em menos de um ano, eles morrem. “Nem dá mais tempo de um menino virar morador de rua. Morre antes”.
Esse é o retrato da crise na segurança pública de Alagoas. Pelos números da Secretaria de Defesa Social, 70% dos mortos tinham envolvimento com as drogas. Semana passada, Maceió apareceu no topo, de uma pesquisa do Ministério da Justiça, como a capital onde o jovem tinha mais risco de morrer de forma violenta. Sem lugar para tratar os jovens viciados em crack, as mães encontram uma solução usada pelos capitães do mato contra os escravos fujões, no século XIX: acorrentam os filhos dentro de casa. Se forem soltos, são executados por causa da dívida com a droga. Dívidas menores que R$ 5,00, preço de uma pedra de crack.
Se quiser largar as drogas, um viciado entra na lista de espera do único hospital público especializado neste tratamento: são 780 pessoas na frente. “E mesmo assim, são 15 dias de um tratamento de desintoxicação. A taxa de retorno ao consumo é alta”, disse o promotor do Núcleo de Direitos Humanos do Ministério Público Estadual, Flávio Gomes. Ele fez uma pesquisa sobre a cracolândia da capital: ela abrange a área do Centro, onde estão localizadas as sedes dos três poderes: em frente ao Palácio Floriano Peixoto, onde despacha do governador, meninos e meninas consomem crack às dez da manhã. “São pessoas sem família ou que foram expulsas de casa. Quase todos são pobres, sem oportunidades, vieram do interior em busca de algo na vida. E viraram moradores de rua, atraídos pelas drogas”. Mães desesperadas procuram o MP, atrás de ajuda aos filhos. “Há muitos casos de mães que acorrentam os filhos. É porque não existe local para tratamento desses meninos. Quem tem dinheiro, leva o filho para ser tratado em clínicas de São Paulo ou do Rio”, explica.
Contra o avanço dos tribunais do tráfico, a Igreja Católica resolveu se movimentar: todas as semanas, realiza missas pela paz. Às 4:30hs da manhã, o arcebispo de Maceió, D.Antônio Muniz, troca as roupas das cerimônias religiosas pelo gesto simples: vai às ruas, ouvir e tentar ajudar: “São histórias terríveis, envolvendo o crack. Não temos políticas públicas. E temos a impressão que é muito simples de se resolver isso, oportunidades têm de ser geradas”.

Veja Mais

Deixe um comentário

Vídeos