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Luis Vilar

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Crônico, mas imperceptível

Há muito tempo não fazia uma matéria policial. Atuei na área por alguns anos e hoje, no Alagoas 24 Horas, tenho escrito mais no âmbito da política. No entanto, o fato do dia que me chocou foi o assassinato de um jovem de 16 anos. Primeiro: o garoto foi executado com dois tiros – um dos disparos atingiu a cabeça – na porta do 1° Batalhão da Polícia Militar de Alagoas, ressaltando a ousadia dos “meliantes”, usando o jargão policial.

Porém, por trás do fato, há cenas crônicas, porém imperceptíveis…

A nossa repórter fotográfica Sionelly Leite conseguiu clicar uma cena que muito me chamou atenção. Ao lado do cadáver do adolescente, várias crianças sentadas na areia sorriam. Algumas delas também envolvidas com o tráfico de drogas, provavelmente, pelo menos uma terá o mesmo destino, e ainda se vangloriar da vida no crime! Porém, dentro do contexto é assustador a banalização da violência e os comentários que se escuta ao lado do cadáver…

Vira e volta passa um dos transeuntes e deflagra a queima-roupa: “Rapaz, foi quase agora, o sangue ainda está jorrando (risos). O corpo deve estar quentinho”, coloca.

Passa outro: “Eita, mais um!”

E assim, sucessivamente os comentários mais assustadores vão se acumulando. Assustadores do ponto de vista da naturalidade de quem já convive com aquela cena. Assustadores do ponto de vista daquelas crianças que conseguem sentar, rir, comer e brincar ao lado do cadáver que ainda espirra o sangue pelas têmporas.

Em instantes, a Polícia Militar arruma um lençol com os moradores da favela e cobre o corpo. As crianças se dissipam. Acabou a diversão. Lembro que neste momento, baixei a cabeça, ao levantar, uma mulher segurava um filho recém-nascido no colo com uma das mãos e se esticava toda como se quisesse ver por trás do lençol…

Neste momento, um dos policiais levanta o lençol para que os repórteres pudessem fazer as fotografias…A mulher quase deixa a criança cair e ainda sussurra: “Meu Deus, Alagoas está tão violenta”.

Muito para além dos tiros deflagrados e do cadáver, há uma violência muito mais crônica e imperceptível. Segue corroendo cada um de nós, vai destruindo nossa capacidade de nos indignarmos com as coisas, nos jogando ao léu da aceitação, ao sempre acostumar…

Uma violência travestida que vem sorrateiramente depois de cada cadáver até as chacinas se tornarem normal, até banalizarmos quase tudo e oficializarmos a barbárie, o estado de sítio e aceitaremos a guerra civil sem nunca termos percebido que estamos dentro dela

É crônico, mas imperceptível

Resposta

Agradeço aos comentários de meu primeiro post e respondo ao nobre amigo Cláudio de Melo. Nada tenho contra o prefeito de Maceió, Cícero Almeida. Apenas, acredito que o fato citado abaixo foi interpretado por ele e por sua assessoria de forma errada, querendo dar uma conotação de que a imprensa fez tempestade em copo d’água e não foi bem assim. Se repeti demais a palavra Cícero Almeida deve ser por ele ter sido o tema central do post. Como você mesmo coloca, a temática é válida. Obrigado pela visita.

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