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Crônicas e Agudas por Walmar Brêda

Walmar Coelho Breda Junior é formado em odontologia pela Ufal, mas também é um observador atento do cotidiano. Em 2015 lançou o livro "Crônicas e Agudas" onde pôde registrar suas impressões sobre o mundo sob um olhar bem-humorado, sagaz e original. No blog do mesmo nome é possível conferir sua verve de escritor e sua visão interessante sobre o cotidiano.

Todas as postagens são de inteira responsabilidade do blogueiro.

Hermanos



Com a vitória recente da Seleção  Argentina sobre a Seleção Italiana, nossos vizinhos conquistaram a Finalíssima e somaram 32 jogos de invencibilidade. Assim como acontece em nosso país, por lá também a imprensa e torcedores já exultam o favoritismo de sua seleção para a Copa do Mundo no Catar no fim do ano —motivos eles tem, pois essa já é considerada a melhor Seleção Argentina da Era Pós-Maradona.

 Busco sempre ser sensato em minhas  colocações e agora não será diferente, mesmo que vá contra a grande maioria.
Há duas décadas que o futebol europeu mantém a hegemonia mundial, conquistando quase  todos os confrontos com países de outros continentes, sobretudo com o seu notório  maior rival: nós sul-americanos. Nosso continente apesar de ser um dos mais pobres do mundo, sabe-se lá por qual motivo, vontade divina ou virtudes genéticas, sempre foi uma potência no esporte mais    popular do   planeta —graças    às  conquistas     e talentos          do Uruguai,   Argentina  e do nosso  Brasil-zil-zil…
Mas, há exatos vinte anos nenhuma seleção sul-americana conquista a Copa do Mundo e contamos nos dedos de uma mão os times que venceram o Mundial de Clubes da FIFA de lá para cá. Então dentre os favoritos, por que o brasileiro não consegue torcer para os argentinos?
—“Ãihn…porque eles são chatos”
Assisti estupefato a final entre Alemanha e Argentina em nosso país em 2014 , com a torcida brasileira quase toda torcendo  contra nossos vizinhos —mesmo com a sova que levamos dos alemães, mesmo com a hegemonia europeia, mesmo sendo a Argentina sendo nossa vizinha, mesmo com a presença do ídolo mundial Messi,  mesmo ela sendo muito mais pobre, mesmo que haja muito mais turismo e empatia entre Brasil e Argentina, mesmo com o Holocausto —ops!, finjam que não falei isso— mas, todos esses e outros argumentos são insuficientes, porque “Ãihn…eles são tão chatos”.
  Na verdade nos comportamos como o morador da favela que torce contra o seu vizinho num confronto esportivo contra um riquinho da Zona Sul, para não dar gosto ao colega de pobreza, por pura inveja ou porque “Ãihn ele é tão chato” e vai ficar ainda mais metido.
Pois eu gosto de vinho argentino, já estive mais de uma vez em suas terras onde fui muito bem tratado, aprecio sua cultura, seu futebol talentoso e raçudo e reconheço nossa relação de boa vizinhança. Caso o Brasil não vá para a final, por que não a briosa Seleção Argentina conquistar o título para baixar um pouco a bola dos arrogantes europeus, que nos vêem apenas como vizinhos de favela? Pois desde já declaro minha torcida pela Argentina e  pelo Messi —nossos nobres vizinhos de favela. Vamos para cima deles com faca nos dentes, mostrar que nós somos pobrinhos, mas sabemos jogar bola.
Sim, assim como a maioria dos brasileiros também vibrava com as derrotas dos hermanos, mesmo sem saber exatamente porque. Sim, eles são chatos e marrentos e adoram nos provocar principalmente no futebol. Acontece que um dia parei e pensei: por que é que eu detesto tanto assim a Argentina mesmo? O mantra que crescemos repetindo de repente se desfez e perdeu o sentido. Como não desejar que, uma vez o Brasil esteja fora da Copa, não sejam eles a se sagrarem campeões do mundo?
Chatice é critério bobo diante de tantos outros argumentos a favor. E chatice por chatice , o europeu também é tão chato quanto eles —e ainda são podres de rico.
—Vamos Neymar! Vamos Messi!

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