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Luis Vilar

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O Conto da Ilha de Saramago e os nossos dias…

As primeiras páginas de O Conto da Ilha Desconhecida do escritor português José Saramago – falecido este ano – seriam de bom proveito para muitos governantes. Pena que o pequeno livreto – uma metáfora sensacional da condição do rei encastelado – seja tão esquecido e tão pouco explorado.

Destaco o trecho: “Como o rei passava todo o tempo sentado à porta dos obséquios (entenda-se, os obséquios que lhe faziam a ele), de cada vez que ouvia alguém a chamar à porta das petições fingia-se desentendido, e só quando o ressoar contínuo da aldraba de bronze se tornava, mais do que notório, escandaloso, tirando o sossego à vizinhança (as pessoas começavam a murmurar, Que rei temos nós, que não atende), é que dava ordem ao primeiro-secretário para ir saber o que queria o impetrante, que não havia maneira de se calar”.

O ato descrito em o Conto da Ilha Desconhecida mostra muito bem os reclames diários por aquilo que nos falta, em virtude da largura da porta dos obséquios. Mas, Saramago ainda fala: “Então, o primeiro-secretário chamava o segundo-secretário, que este chamava o terceiro, que mandava o primeiro-ajudante, que por sua vez mandava o segundo, e assim por aí fora até chegar à mulher da limpeza, a qual, não tendo ninguém em quem mandar, entreabria a porta das petições e perguntava pela frincha, Que tu queres”.

“O suplicante dizia ao que vinha, isto é, pedia o que tinha a pedir, depois instalava-se a um canto da porta, à espera de que o requerimento fizesse, de um em um, o caminho ao contrário, até chegar ao rei. Ocupado como sempre estava com os obséquios, o rei demorava a resposta…”. Eis uma metáfora que serve a tantos tempos e a tantos governantes.

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