Blog

Usuário Legado

Todas as postagens são de inteira responsabilidade do blogueiro.

‘O voto é pragmático. Se vota com o bolso’

Leila Suwwan- O Globo

SÃO PAULO. Para o cientista político Alberto Carlos Almeida, as denúncias de corrupção dificilmente atingem o eleitor, que vota de forma pragmática, pensando no bolso. Almeida é diretor do Instituto Análise e da Ipsos Public Affairs. Autor de “A cabeça do brasileiro” (Record, 2007) e “A cabeça do eleitor” (Record, 2008), ele considera que a situação econômica será fator predominante do resultado das urnas.

O GLOBO: Passamos por dois grandes escândalos. Porém, ainda há pouco efeito nas pesquisas de intenção de voto
ALBERTO CARLOS ALMEIDA: A experiência mostra que muitas coisas que achamos que terão impacto não têm. O eleitorado de um modo geral acha que todos os políticos roubam. Isso nivela por baixo os políticos.

O senhor tem um levantamento mostrando que, quanto menor a escolaridade, maior a conivência com ações antidemocráticas, como o uso de cargo público ou a proibição da crítica ao governo…
ALMEIDA: Sim, é o resultado final. Mas o que está por trás disso? Quanto mais baixa a escolaridade, mais a vida da pessoa está ligada à sobrevivência. Não sobra dinheiro no fim do mês. Ela precisa se preocupar com os filhos, escola, alimentação. Qualquer outra coisa está distante dela, então, não dá bola. Quando o Lula fez campanha em 94 e 98, atacou FH dizendo que ele estava com o ACM. O eleitor não dá a mínima, acha que isso é coisa deles, da vida deles. Se você disser algo como: “Dilma vai aumentar impostos”, ou “a inflação vai aumentar”, aí o eleitor vai falar: “Opa, agora é comigo.” Essa questão de Zé Dirceu, eles acham que é problema entre políticos. No fundo, é verdade. O voto é pragmático. Se vota com o bolso. O que muda é o nome que isso leva. Em 1994, o nome do bolso era Plano Real; em 1998, também. Em 2002, o problema era o desemprego. Em 2006, o bolso teve o nome de Bolsa Família. Hoje é a ascensão da classe baixa para formar a nova classe média. ‘É um mito achar que o Lula está santificado’

Vai se consolidar o caráter “plebiscitário-econômico” ou o eleitorado pode amadurecer?
ALMEIDA: A tendência é a primeira, com eleições mais folgadas ou mais apertadas. No mundo inteiro é assim, existem sempre duas forças políticas com chance real de ganhar. Todo partido social-democrata tende a ter mais votos na classe mais baixa, todos os partidos de centrodireita têm votos mais consistentes na classe mais alta. Na eleição brasileira, esse fenômeno aconteceu pela primeira vez em 2006. Em 2003, a votação do Lula foi homogênea em todas as classes. Em 2006, teve a segmentação que colocou o Brasil nesse padrão europeu. Veio para ficar.

E o Lulismo?
ALMEIDA: Não existe. O que existe é um apoio ao desempenho do Lula. As pessoas estão consumindo mais. É um mito achar que o Lula está santificado. As pessoas melhoraram de vida no governo dele, e a aprovação do Lula, de quase 80%, é um reconhecimento disso. Lulismo seria uma doutrina de adoração pessoal, não existe isso.

Então, o sucesso da Dilma é um voto pela continuidade, não transferência de voto?
ALMEIDA: Exatamente.

Se as denúncias não têm repercussão eleitoral, porque há essa reação tão agressiva de setores do PT, acusando a mídia?
ALMEIDA: No mundo político, há uma crença de que essas coisas têm efeito. Do ponto de vista analítico, digo que não têm. Vale para os dois lados. O PSDB usa na propaganda porque acha que será útil, mas é uma burrada. Do outro lado também. Atacar ou não a mídia não vai mudar o rumo do PT nas eleições.

Como devem atuar a imprensa e o Legislativo, que são, de certa forma, poderes fiscalizadores, se o público não se abala muito com denúncias?
ALMEIDA: Uma coisa é dizer que a denúncia não tem impacto na eleição. Outra é dizer que não tem impacto nenhum. Veja a decadência de Orestes Quércia e Paulo Maluf. A punição aos políticos existe. José Dirceu ia ser presidente do Brasil, foi atingido pelo mensalão. Já era. Palocci, segunda opção para presidente, foi atingido pelo escândalo do caseiro. Já era. Erenice poderia ter um cargo importante no próximo governo. Já era. São escândalos e ilegalidades que vão deixando vítimas pelo caminho. Para o eleitor, o que está em jogo é o consumo. Se o quadro fosse de recessão, seria diferente.

Qual o futuro possível para uma oposição?
ALMEIDA: Hoje, qual é a oposição? Oposição tem que fazer oposição sempre e sobre tudo. Não é aquela que fala, vamos votar se for bom para o país. Na Inglaterra, os trabalhistas deram autonomia ao Banco Central e os conservadores foram contra. Como? Porque são oposição.

Só para ser contra?
ALMEIDA: A oposição é política, não pode ser intelectual. Fica fazendo oposição até que aparece a oportunidade de ganhar.

Veja Mais

Deixe um comentário

Vídeos