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Crônicas e Agudas por Walmar Brêda

Walmar Coelho Breda Junior é formado em odontologia pela Ufal, mas também é um observador atento do cotidiano. Em 2015 lançou o livro "Crônicas e Agudas" onde pôde registrar suas impressões sobre o mundo sob um olhar bem-humorado, sagaz e original. No blog do mesmo nome é possível conferir sua verve de escritor e sua visão interessante sobre o cotidiano.

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Cada um tem seus sonhos, suas metas, seus objetivos de vida e também seu conjunto de conquistas e realizações que entendem como sucesso pessoal. Portanto, não devemos medir as decisões de outrem com nossas próprias réguas. Mas também,  nada impede  que possamos refletir livremente sobre dois casos em especial, onde seus protagonistas largaram  seus empregos  estáveis, respeitados  e bem renumerados  , para lançarem-se na vala comum da política onde tudo cabe —não no sentido positivo da expressão.
Falo do caso do ex-juiz Sergio Moro e ex-promotor alagoano Alfredo Gaspar de  Mendonça; dois casos emblemáticos onde juiz e promotor concursados há anos e, sobretudo,  reconhecidos como excelentes profissionais da área e cujo reconhecimento os levaram a um patamar de popularidade que extrapolou suas atividades profissionais, ao ponto de… acharem pouco o que faziam e desejarem alçar voos maiores.
E onde mais é possível lançar-se sobre às necessidades públicas com o espírito de paladino defensor dos fracos e oprimidos, emprestando suas competências e sobretudo seu precioso tempo com visibilidade suficiente para afagar sua vaidade ? Na política, é claro.
E assim,  a maioria pensante assistiu espantada  dois homens públicos de grande destaque, assinarem as respectivas exonerações  dos seus cargos, que para muitos seria um belo um ponto de chegada, para lançarem-se no mar de incertezas —de lama e chorume também— da política, juntos com tantos outros seres cobiçosos de votos alheios, dispostos a tudo para se elegerem —cada um com seu objetivo político pessoal.
Numa análise apressada, o que levaria um ser humano com sua carreira consolidada e estável a deixar tudo e partir para uma aventura incerta e obscura na selva nem sempre nobre da política ? Notável dever civil? Altruísmo beligerante? Desejo de  voar para mais próximo do sol, qual o lendário e desafortunado Ícaro? Ou seria ambição e necessidade desmedida  por novos desafios? Bem, talvez um pouco de cada seja parte das razões de tal decisão. Mas,  certamente a maior de todas elas seja o famigerado e perigoso EGO. Sim, sempre ele.
Sérgio Moro tornou-se bem maior que seu cargo após o brilhante e corajoso papel no desmantelamento do maior esquema de corrupção da República no comando da Operação  Lava Jato. Como consequência,  foi ovacionado e aplaudido no Brasil e no exterior, colhendo os louros por suas ações intrépidas no cargo de juiz federal.
Agora imaginemos esse mesmo juiz, tarde da noite,  deitado em seu travesseiro,  olhando para o teto e em seguida sendo inquirido por sua esposa sobre o motivo da insônia:
—Acho que vou concorrer a presidente! —teria respondido orgulhoso de si mesmo,  num auto-ufanismo bastante comum entre aqueles que passam a ser adulados dia e noite.
O mesmo deve ter acontecido com o promotor Alfredo Gaspar em sua passagem pela Secretaria de Segurança de Alagoas, onde fez um trabalho exemplar nos resultados, mostrando firmeza leonina nos objetivos, trazendo de volta ao alagoano a confortável e necessária sensação de segurança que andava tão combalida nas últimas décadas.
Então podemos também imaginar seu olhar fixo no teto e a uma resposta parecida quando perguntado pela cônjuge sobre o motivo de estar acordado àquela hora da noite:
—Acho que vou entrar na política. Eles me querem lá !
Bem, o desenrolar da história de ambos todos conhecemos: Exoneração voluntária abrindo mão do ótimo  salário, da condição de “autoridade”, da estabilidade e do respeito. Sim, do respeito também . Moro teve sua imaculada  imagem  desintegrada pouco a pouco entre seus adoradores e futuro eleitores, devido a uma série de decisões erradas e um monte de palavras fora do lugar, ou resumindo, total inabilidade para aquela nova carreira que pretendera, levando-o a um limbo político onde encontra-se nesse exato momento.
Já o ex-promotor alagoano,  tão sério e respeitado no Ministério Público até adentrar-se de corpo e alma na política, anda de lá para cá como se fosse um candidato  qualquer —o que de fato é —inclusive dançando forró com velhinhas e sendo chamado com deboche de “Boca Mole” pelos adversários.
Como é que pode? —me pergunto— o que tem essa tal política que seduz cidadãos de bem com seu canto de sereia, tornando-os vulgares e sedentos de apoios e adulações de gente estranha e muitas vezes oportunista?
Na verdade, esses e outros exemplos mostram o que acontece quando deixamos nosso ego tomar conta das nossas grandes decisões. Acreditar que um dia o homem tornou-se bem maior que sua função ao ponto de não pensar e pesar se estariam  dispostos a pagar o preço daquele novo caminho, pode revelar-se uma armadilha,  caso seus planos implodam durante a trajetória por eles escolhidas.
Não são poucos os casos de outros funcionários públicos de destaque que aventuraram-se na política, mas a maioria não faz um salto sem caminho de volta. A grande maioria apenas se afasta e volta correndo assim que percebe o barco naufragar.  Àqueles que o fizeram,  alguns dos quais eu citei acima, podem ser considerados pessoas incomuns, pela enorme coragem e desapego —mas, para infelicidade deles, só isso não ganha voto.
Acontece que ser corajoso e vaidoso como homem público, não significa ser burro. Sérgio Moro sabe que ainda tem prestígio suficiente para,  uma vez encerrando a carreira política que nem chegou a começar, não lhe faltará bons empregos em grandes escritórios de advocacia. Assim como Mendonça, que pertence a uma família abastada, o que minimiza o risco famélico numa eventual desistência de viver pulando em cargos eletivos.
Mas, isso não diminui o tamanho da sua coragem, apenas mostra que ela só não é maior que o seu próprio ego.

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