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Bispo Filho

Bispo Filho é Administrador de Empresas e Estudante de Jornalismo.

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Victor, da dupla Victor e Leo, bateu mesmo na sua mulher grávida?

Excelente texto de minha querida amiga Mônica Raouf El Bayeh que reproduzo na íntegra aqui, sobre a violência contra a mulher e os monstros agressores (um monte deles com cara de anjinhos e super agradaveis) que estão soltos e impunes por aí.

Victor, da dupla Victor e Leo, bateu mesmo na sua mulher grávida?

Poliana, mulher de Victor, da dupla Victor e Leo, disse que foi jogada ao chão e chutada por ele. Após a briga, barrada na porta da própria casa. Impedida de sair por um segurança e pela irmã do cantor.

Imagina a aflição?

Ela foi salva por uma vizinha que chamou o elevador para ela.

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Victor bateu mesmo na sua mulher grávida? Olhando assim na tevê, a criatura tão linda, simpática, carismática, a gente não acha. Tão bonzinho no programa de criancinhas, né? Será que bateria?

Então devo avisar a vocês que batedores de mulheres não são os ogros que a gente imagina. Eles são bem vestidos, simpáticos, carismáticos, boa pinta. Lembram do Pedro Paulo amigo do Eduardo Paes? Então. Se fazem de super bonzinhos. Educados. Cara de bons moços. É dentro de casa que a parte agressiva aparece. Só dentro de casa.

Na rua, uns fofos. Para uso externo, uma delícia. Dignos de participarem de programas de criancinhas. Vai viver com ele, depois me conta.

É dentro de quatro paredes que a máscara cai. Que a violência brota. Pelos menores motivos. E muitas, muitas vezes. Agressores de mulheres não batem uma vez. Batem muitas. Agridem oralmente. Humilham. Massacram sem uma mancha roxa. Murcham a alma e a autoestima da mulher.

Por que elas aguentam? Porque depois eles se acalmam. Dizem que amam. E, como canta o próprio Victor na música “Vai me perdoando”:

Vai me perdoando esse meu jeito estranho. Eu sei que fez você sofrer. Vai me perdoando…

Elas, massacradas, ficam em dúvida. Perdoam. Eles dizem que elas não encontrarão ninguém. Ou ninguém melhor do que eles. Porque elas já se sentem um lixo e acham mesmo que não vão achar. Que não têm outra saída.

Muitas não têm família, amigos, suporte afetivo. Muitas se calam para que os outros não descubram. Por vergonha. Por medo. Agressores botam medo.

Um dia se cansam. Ou um dia o medo de ser morta ultrapassa a vergonha de falar, de pedir ajuda. Nesse dia, elas correm. Vão à polícia. Se expõem.

E aí, o que seria o princípio de um alívio, vira pesadelo. Depois da denúncia, ela volta para onde? Para a casa do agressor que é sua também? No mesmo teto? Como?

A mulher agredida que denuncia o agressor tem contra ela o marido, os amigos do marido, a família do marido. No triste caso aqui, os fãs do marido. Ela é a má. A megera. A bruxa.

Pior, o sangue esfria. O prejuízo aparece. Ela se vê exposta. Todo mundo comentando. O programa de criancinhas já não quer mais ele lá. Uma grana a menos. Um bebê chegando. Até que seja para contar na pensão, em caso de separação, já é um prejuízo, pensa bem.

É essa pressão, numa alma já dolorida, que faz a vítima voltar atrás e desmentir sua denúncia. O que sempre acaba dando um resultado patético. Lembram da mulher de Pedro Paulo que acabou quase dizendo que ela se bateu?

É assim. Pergunte às mulheres vítimas de maus tratos sobre seus hematomas. Elas esbarraram. Caíram da escada. Só um tombo bem feio. Seria engraçado, se não fosse tão triste.

Em sua conta no Instagram, Poliana diz:

1- “Em Belo Horizonte, não tenho parentes ou amigos, estava distante da minha cidade natal e, após a discussão com minha sogra, sem sentir o apoio do Vitor que tentou me conter, vi na polícia um lugar em que me senti amparada”.

Você está angustiada, na falta de um ombro amigo, dá um pulinho rápido na DP para dar uma desabafada. É o primeiro lugar que te vem na cabeça, não é? Confessa! Quantas vezes você já foi conversar com um desconhecido policial amigo na DP?

2- “ Em momento algum, considerei que tivesse ocorrido qualquer crime.”

Uma denúncia sem crime? Existe isso? Se não tem crime, vai tomar um sorvete na esquina. Esfriar a cabeça. Na polícia?

3- “Fez perícia no IML para comprovar a inexistência de qualquer lesão feita pelo marido.”

Se não há o que comprovar, não se vai ao IML. Os peritos têm mais o que fazer do que.

4- “Vitor não me machucou e nunca me machucaria.”

Ele jogou sem força? Chutou de leve?

5- “Não tinha interesse na apuração de natureza penal.”

Não tinha mesmo. Não tenho estatísticas. Mas, no meu consultório, a enorme maioria das mulheres que procuram a polícia, fazem a denúncia, o exame no IML. E guardam para sempre. Sem pensar em usar. Em continuar a questão.

Elas denunciam como forma de mostrar que não mais aceitarão as agressões. Que não ficarão caídas. Que agora estão em pé. Tentando ficar inteiras. E não aceitarão continuar sofrendo.

Na maioria das vezes dá certo. O agressor amansa um pouco. Ameaça, mas elas refrescam sua memória e eles botam o rabo entre as pernas. Pode ser que não haja mais agressões Pode. Muitos casos se resolvem assim. Sem continuar a questão penal.

Não é sempre. Muitas são as mulheres que morrem vítimas dos homens com quem vivem. Por isso esse caso é importante. Todos são. Lamentavelmente, vemos os casos de violência doméstica tratados como assunto menor. Não é.

Mulheres são assassinadas todos os dias. Esse assunto é grave. Urgente. Não podemos fechar os olhos. O goleiro Bruno, solto recentemente, é um exemplo bem claro de como assassinatos de mulheres não são levados a sério nesse país.

– Tem que ver o motivo.

– Alguma ela fez.

Mentira. Nada justifica a agressão. Nada justifica nenhuma agressão. Temos que parar de julgar as vítimas e proteger os criminosos.

– A mulher é dele.

Nenhuma mulher é de ninguém. Não somos objeto. Nem posse de ninguém. Alguém já viu certificado de registro de mulheres? Somos mulheres. Sou de ninguém. Sou de quem eu quiser. Provisoriamente e olhe lá. Eu sou minha dona. Ninguém me manda.

– Ela apanha porque gosta. Sem vergonha.

Dobre a língua. Mulheres agredidas não são sem vergonha. Muitas não têm como se sustentar. Nem onde morar com seus filhos.

Vemos homens com esse discurso. Podre. Para eles valemos menos. Somos inferiores? Objetos de prazer? Não nessa condição.

Vida de mulher vale menos? É isso que a justiça acredita? Porque é assim que ela age. Ninguém vale menos. Ninguém é menos. Por nada. Nenhum motivo.Nós mulheres pedimos ajuda. Justiça, abra os olhos. Largue essa balança desregulada e machista. Dá um colinho para a gente. Proteja. Acolha. Você é mulher também. Não esqueça mais disso.

Triste é ver mulheres reproduzindo o discurso machista. Acusando suas irmãs. Mulheres, se não formos nós, quem nos protegerá? Hoje é Poliana. E amanhã? Quem garante que não é você? Sua filha? Sua mãe?

Parece que a gente vale menos. Que pode estuprar, passar a mão, se esfregar, agredir, falar o que bem quiser e tudo bem. Não pode. Não vai poder mais. A gente não vai mais calar. Nem abaixar a cabeça envergonhada.

Todos juntos somos fortes.

Somos mais e melhores.

Vamos reagir.

Vamos nos ajudar.

Vamos ser uma pela outra.

E fazer a diferença.

Vamos ensinar nossos filhos, nossos alunos, nossas crianças.

Nada justifica.

Bater não vale. Não pode. Apanhar também não.

Texto publicado no Extra por:

Monica Raouf Elbayeh

Escreva contando sua história. Mande sua sugestão para:  elbayehmonic@yahoo.com.br

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