Um discurso de janeiro do prefeito Jorge Miranda (PL), de Mesquita, na Baixada Fluminense, viralizou esta semana. Em sua fala, Miranda explica por que não vai fazer um restaurante popular na cidade: isso causaria uma “população variante” que traz sujeira para porta das lojas e destrói o empresário local.
“Em relação ao restaurante popular, a gente vai ter que conversar (…). Talvez a gente tenha que fazer o impacto, se monta lá, você destrói (…), você acaba destruindo o empresário local”, disse.
“Tudo aqui a gente estuda, a gente não faz de qualquer jeito. Então, tem que citar, além da população variante que acaba trazendo sujeira e disponibilidade na porta dos estabelecimentos, que a gente já avançou muito, não vamos retroagir mais em relação a isso”, emendou.
O vídeo acabou viralizando porque foi compartilhado pelo padre Júlio Lancellotti, conhecido pela luta em defesa das pessoas em situação de rua. O religioso costuma fazer publicações denunciando a aporofobia, que é a aversão ou desprezo pelos pobres.
Exemplos de aporofobia são medidas que tornam a arquitetura das cidades mais hostil — como colocar pedras embaixo de um viaduto ou tijolos na calçada, para impedir que pessoas durmam em espaços públicos.
Uma voluntária que realiza trabalhos sociais em Mesquita disse ter tido “repugnância” com a fala do prefeito.
“Mesquita é muito carente de comida. O povo está passando muita fome, você não noção da necessidade que o povo passa”, disse Catarina da Silva, da associação Pensando Em Você.
Catarina está desempregada e passa dificuldade para cuidar dos três netos. Mesmo assim, recolhe alimentos que seriam descartados de mercados e faz uma feira comunitária toda sexta-feira, no quintal de casa — com a qual sustenta a casa.
“Cada um faz uma parte. Saio pedindo nos mercados, às pessoas”, emendou.
O que diz o prefeito
Jorge Miranda disse em nota que a fala dele “estava fora de contexto no vídeo” e que não há um projeto para restaurante popular no Centro de Mesquita — “nem espaço disponível para isso”.
O prefeito disse ainda que o Centro não seria a região mais estratégica, “já que a população socialmente mais vulnerável está em regiões periféricas”.
