É saudável manter online o perfil de alguém que já morreu?

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Casamento, separação, mudança de país, de emprego, nascimento e morte. Nas redes sociais, temos atualizações em tempo real sobre o que acontece na vida de amigos próximos ou conhecidos distantes. Em tempos de vida online 24 horas por dia, sete dias por semana, o que muda na forma como lidamos com a morte?

“As redes sociais possibilitam uma nova maneira de se relacionar tanto com o enlutado quanto com a pessoa que faleceu” diz Regina Szylit, líder do Núcleo Interdisciplinar de Pesquisa em Perdas e Luto da USP. Segundo a pesquisadora, quem perde um ente querido pode usar o perfil online do morto como uma maneira de matar as saudades, mantendo a pessoa próxima.

Quando uma pessoa morre, ela deixa para trás, além de pertences e histórias, os rastros de uma vida construída também online. O que acontece então é incerto. A política muda de acordo com o site.

"Em alguns casos, o assunto não é nem abordado no contrato com o usuário”, explica Evan Carrol, idealizador do The Digital Beyond, site dedicado a esclarecer sobre o tema.

Mausoléu online

No Facebook, existem algumas opções. Apresentando documentos que comprovem o óbito, a família pode entrar com um pedido para que o perfil seja apagado ou para que a página se transforme em um memorial. Neste segundo caso, o perfil se mantém intacto, mas não pode mais ser adicionado como amigo, nem fazer novas postagens. Outra opção, que não conta com o aval da rede social, é algum familiar assumir o perfil do falecido e passar a postar em nome dele.

Segundo a psicóloga Valéria Tinoco, do instituto especializado em luto Quatro Estações, a tentativa de manter ativos os laços com o falecido é natural.

“As pessoas demoram certo tempo para entender que aquela pessoa morreu mesmo e não está mais ali”, diz.

“Num primeiro momento, é comum as pessoas ficarem, por exemplo, ouvindo um recado deixado pelo morto na caixa de mensagens do telefone. Isso é normal”.

A especialista, no entanto, não vê validade na opção por manter ativo o perfil online de alguém que morreu, assumindo o lugar que era ocupado pela pessoa em vida.

“Hoje, como muitas relações são virtuais, fica tentador transpor para o virtual uma relação com o falecido. Isso, no entanto, é uma negação da morte”.

Valéria explica que o luto é um processo de adaptação ao mundo sem aquela pessoa querida que se foi. Neste processo, o enlutado terá basicamente dois movimentos: a aceitação da perda e a recuperação. De acordo com a psicóloga, a manutenção da página do falecido prejudica justamente esta retomada da própria vida.

Para Carrol, a resolução deste problema moderno passa por uma atitude simples.

“Sem saber a vontade do falecido, a família tenta adivinhar o que aquela pessoa gostaria que acontecesse”, sugere.

“Eu incentivo todos a, em vida, refletirem sobre o assunto e a confidenciarem seu desejo a alguém da família”.

Fonte: IG

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