Terrorista absurdo de Ben Kingsley marca ‘Homem de Ferro 3’

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Quem gostou dos dois filmes anteriores do Homem de Ferro vai gostar do novo capítulo da franquia. Disposto a pecar pelo excesso, o filme investe ainda mais nas tentativas de fazer humor irônico – apoiado na controversa e restabelecida reputação de Robert Downey Jr. , no histórico de abusos que aproxima e confunde ator e personagem. Também amplifica consideravelmente o número de armaduras em cena, com um 3D que não se justifica.

A quem condenou ou não virou fã dos primeiros episódios, restará aturar uma vez mais os narcisismos de Tony Stark (a identidade civil e milionária do herói) – e este é outro dado coincidente entre Downey Jr. e o protagonista. Se vai valer a pena, é sobretudo porque “Homem de Ferro 3” tem o vilão Mandarim. E porque tem Ben Kingsley encarregado de interpretá-lo.

Será este o ponto de concordância entre fãs e detratores eventuais: mesmo com pouco tempo de tela, o terrorista vivido pelo veterano britânico é responsável pela passagem mais marcante – e positivamente absurda – do filme. Mesmo quem reprovar as liberdades que os produtores tomaram com relação à história dos quadrinhos da Marvel não poderá negar que vem dali a principal surpresa. Ela é bem-vinda num roteiro que por vezes esquece ou abandona noções de nexo.

“Homem de Ferro 3” começa mal: muita verborragia, diálogos apressados que mais confundem que divertem (o propósito parece ser o de despertar risos). Neste princípio, temos uma voz narrando fatos ocorridos anos antes do presente da narrativa. É a voz do próprio Tony Stark, e ela vai permanecer durante toda a projeção.

As cenas que ele descreve apresentam basicamente duas figuras inéditas. São encontros do protagonista em sua existência “pré-Homem de Ferro”. Primeiro, vem a botânica Maya Hansen (Rebecca Hall); depois, o cientista de muletas Aldrich Killian (Guy Pierce).

Rebecca (a Vicky de “Vicky Cristina Barcelona”, de Woody Allen) cumpre função quase decorativa e terá pouco a mostrar – em termos de interpretação. Mas o problema é menos dela que do texto descuidado. O desfecho de Maya é francamente mal resolvido. Pierce (“Amnésia”), por seu lado, tem mais importância e chega perto de manter o nível elevado do vilão de colarinho branco do “Homem de Ferro 2”, um fabricante de armas a cargo do ator Sam Rockwell .

Outra novidade que faz a diferença (nem sempre para o bem) é o maior espaço para a interação e colaboração entre o Homem de Ferro e o coronel James Rhodes (Don Cheadle), que também usa armadura e está a serviço do governo. É natural especular que isso decorre da presença do diretor Shane Black. Embora esteja apenas em seu segundo longa-metragem, ele é conhecido em Hollywood: surgiu como semiprodígio, ao escrever aos 20 e poucos o roteiro de “Máquina mortífera” (1987) – apesar de ter dado sequência ao promissor início de carreira, caiu em relativo esquecimento desde o final da década seguinte. Plausível, portanto, imaginar que resta alguma influência da dupla Mel Gibson & Danny Glover – que ajudou a formatar certo conceito de "tiras" de personalidades complementares – em Downey Jr. & Cheadle.

Entretanto, o parceiro mais interessante do herói em “Homem de Ferro 3” é o garoto Harley, papel de Ty Simpkins. O ator mirim vai bem ao compor um menino de cidade pequena que ajuda o herói e que, para comprar a atenção do ídolo, apela à carência. Downey Jr. vai melhor ainda ao se mostrar um vaidoso incapaz de se comover e ceder a apelos paternais. São os melhores diálogos do filme.
É graças a esse tipo de situação cômica breve e inesperada – e em tese desnecessária (entre aspas), se considerar puramente a progressão narrativa – que o filme melhora os seus antecessores em alguns aspectos.

O guarda-costas do Homem de Ferro, Happy, é outro personagem lateral que tem seus momentos. Vivido de novo por John Favreau, que foi diretor dos capítulos 1 e 2 e agora fica na produção, o segurança aparece de visual meio John Travolta em “Pulp fiction” e é um improvável fã de um seriado televisivo de época (o programa existe de verdade). Da gente conhecida, há Gwyneth Paltrow como Pepper Potts, antiga secretária e atual mulher do Homem de Ferro. O papel cresceu, a ponto de surgir em cenas de ação, bem como o romance.

A ação, a propósito, não é o que resta de notável em “Homem de Ferro 3”. Porque o filme reproduz os predecessores, na medida em que faz Tony Stark predominar sobre Homem de Ferro. Mesmo que a repetição canse, é preciso reconhecer quando funciona. Os que já assitiram ao 1 e ao 2 devem se lembrar de situações em que Stark, por influência de álcool ou presunção, falhava ao tentar vestir ou usar a armadura. Aqui, isso é mais frequente.

A ideia de largar o herói para "escanteio" em favor de seu lado humano não é propriamente novidade. As mais recentes encarnações de “Batman” e “Homem-Aranha” apontaram o caminho – e, como filme, resultaram melhor. “Homem de Ferro 3”, contudo, não se leva demasiado a sério. Não se torna vítima de um tema grandioso e atual, o terrorismo. Se ele evita a falha banal, é precisamente porque dá ao Mandarim de Ben Kingsley uma função nonsense e de autoparódia.

Fonte: G1

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