Para Dona Ana…

'Não guardava mágoas. Guardava amores, saudades, mas, não mágoas'...

DivulgaçãoVanessa Alencar

Vanessa Alencar

Dona Ana era uma mulher simples, de hábitos simples e alegrias singelas. Alegrava-se em estar reunida com a família, com os filhos, amigos e com as netas. Se tivesse um copinho de cerveja gelada, ainda melhor! Tinha um sorriso franco e um fraco para cair, sempre, nos “trotes” que o filho não cansava de lhe pregar.

Tinha a inocência de uma criança e a incapacidade de fazer mal a quem quer que fosse. Não guardava mágoas. Guardava amores, saudades, mas, não mágoas. Tinha o riso e o choro fácil… Sorria com as brincadeiras dos filhos e do genro, com as piadas do sobrinho Alexandre, companheiro de centenas de domingos que nunca mais serão os mesmos.

Recebia-nos na porta de sua casa, quando não estava conversando com as vizinhas, motivo, aliás, pelo qual nunca quis se mudar da residência onde viveu nas últimas décadas: poder cultivar a simplicidade de uma conversa aconchegante na calçada, de caminhar até o mercadinho onde já conhecia o dono e todos os funcionários. Sua vida era simples e suas alegrias também…

Não recusava um passeio, muito menos um cafezinho no final do dia. Seu café, aliás, era quente e verdadeiro como ela, que não era mulher de requentar. Quando seu filho chegava, corria a coar o café na hora e, enquanto servia, sentava-se à mesa para ouvir e contar as novidades.

Se algo a incomodava ou alguém a fazia mal, dava de ombros, como quem sabe que de tudo o tempo se encarrega. Tinha suas dores guardadas, e não eram poucas. Mas, nunca a vi desejar mal a ninguém. Nunca a vi se lastimando, nem maldizendo seus dias. Nunca a vi sendo mesquinha.

Discreta e até contida, Dona Ana não era de grandes demonstrações de afeto, de “beijos e abraços”, como se diz. Mas, estava ali. Apesar da aparente fragilidade, era porto. Ponto de embarque e desembarque. Alguém para quem sempre podíamos voltar sem julgamentos, sem termos que ouvir se estávamos certos ou errados.

Quando soube que eu estava grávida de Beatriz, foi de Dona Ana e de minha cunhada, Wanessa, o primeiro presente que minha filha recebeu: um conjunto lindo de linho branco e vermelho, com sapatinhos e luvas combinando. Ela estava genuninamente feliz com a notícia. Vou guardar sua alegria e esse presente para sempre.

Também guardarei na lembrança a imagem de como ela ficava bonita quando a minha cunhada a maquiava e como gostava quando eu percebia quando tinha cortado ou pintado os cabelos, ou vestia uma roupa nova. Como já havia dito, minha sogra era uma mulher simples, de hábitos e alegrias singelas.

Muitas vezes ficamos conversando na entrada de sua casa, enquanto víamos as meninas, suas duas netas, brincarem. Ela me contava de quando lecionava, de quando os filhos eram pequenos e de como o tempo passava rápido. “Outro dia, eram os meninos que brincavami”, dizia, referindo-se aos filhos e, contando, mais uma vez, do dia em que o “Beto” (era assim que chamava o filho, Luis Vilar) derrubou a irmã, Wanessa, de um carrinho que ele empurrava com ela dentro.

Minha sogra, que, junto com meu sogro, eram segundos pais para mim, nos deixou na segunda-feira passada, dia 7 de maio, quando sequer tínhamos nos recuperado da morte do “Seu Gilvan”, há cerca de cinco meses.

Dona Ana morreu em circunstâncias ainda não esclarecidas, mas, nesse momento, não quero e não vou falar sobre isso. Achei que a melhor forma de homenagear uma pessoa que não cultivava mágoas, era relembrar um pouco seus momentos engraçados e alegres.

Especialmente para meu marido, minha cunhada e meu concunhado, minha sobrinha e minha filha, volto a lembrar que estamos juntos e, como dizia o poeta Paulo Leminski: “Amor é pão feito em casa e a pedra só não voa porque não quer, não porque não tem asas”.

Aos amigos, familiares, a minha mãe e meu pai amados, meus irmãos e suas esposas, a Cida – a primeira a me consolar quando soube da notícia trágica – e a Fátima (que também considero minha sogra querida), minha declaração de amor, meu sincero “Muito obrigada”. Quero dizer da minha felicidade por estarem conosco.

Amo todos vocês, mas, neste dia das mães, minha homenagem vai para Dona Ana. Essa mulher que foi mãe, sogra, esposa, avó e professora. Acredito que um dia, nos reuniremos novamente em uma mesa, para tomar um café quente, coado na hora – feito pela senhora, é claro! Neste dia, a senhora e o Seu Gilvan terão muitas histórias para nos contar… Até lá!

Fonte: *Jornalista

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