O empresário carioca Otávio Basile Novello é ‘sangue bom’. Dono de metalúrgica, ele ostenta um recorde de solidariedade: o de maior doador de sangue do Hemorio, unidade ligada à Secretaria Estadual de Saúde, responsável pelo abastecimento de 180 hospitais.
Ao longo de 48 anos, Otávio compareceu ao hemocentro 144 vezes, média de três vezes por ano. A estimativa é que ele tenha ajudado a salvar ao menos 570 pessoas neste período, já que, segundo médicos, cada bolsa de sangue, que varia entre 300 ml e 450 ml, representa quatro vidas poupadas.
Contra sua vontade, porém, foi obrigado a parar de doar sangue — do raro tipo A negativo — no dia 11 de setembro. A legislação brasileira permite doação voluntária apenas entre pessoas de 18 a 67 anos, 11 meses e 29 dias. Dos 16 aos 18 anos, é preciso autorização dos pais ou responsáveis.
“Não me conformo. Tenho boa saúde e sinto que poderia fazer doações por mais tempo”, lamenta Otávio, que mandou carta para o Senado, sugerindo a extensão da idade-limite para 72 anos.
“Quero liderar uma campanha. Há muita gente da terceira idade saudável, louca para ajudar o próximo”, ressalta ele, que nunca teve contato com quem recebeu seu sangue. “Faça o bem, sem olhar a quem. É meu lema”, ensina.
Estoque em níveis críticos
A disposição de Otávio contagia parentes, amigos e até funcionários dele. E numa boa hora. O Hemorio entrou em alerta máximo. O estoque chegou a níveis críticos, fazendo com que a unidade só atendesse a situações de emergências e maternidades. Muitas cirurgias eletivas (sem risco de vida) tiveram que ser suspensas.
Em setembro, foi registrada uma das maiores baixas no comparecimento de voluntários: pouco mais de 5 mil. A média mensal é em torno de 8.200.
“Por enquanto, o mês de outubro segue com a mesma tendência. Qualquer tipo sanguíneo é importante, principalmente os do tipo O, muito utilizado em situações emergenciais”, apela a médica hemoterapeuta Flávia Azevedo, responsável pelo setor de Transfusão e Aférese do Hemorio.
Para ser doador voluntário, o interessado deve apresentar um documento oficial de identidade com foto (original), pesar mais de 50 kg e estar bem de saúde.
O termo de autorização está no site do Hemorio (www.hemorio.rj.gov.br) e deve ser entregue junto com uma cópia autenticada da identidade do mesmo responsável. Não é necessário estar em jejum.
Recomenda-se apenas evitar a ingestão de alimentos gordurosos nas 4 horas que antecedem a doação e de álcool nas últimas 12 horas.
“Infelizmente, apenas 2% da população brasileira doa sangue regularmente. Precisamos de muitos Otávios”, brinca a chefe do Serviço de Atendimento ao Doador, Naura Faria. O Hemorio, que criou o Disque-Sangue (0800 282 0708), funciona todos os dias, das 7h às 18h, incluindo sábados, domingos e feriados, na Rua Frei Caneca 8, Centro.
