Ano-Novo em favela atrai turistas estrangeiros

Cerca de 30 turistas estrangeiros pagaram R$ 250 cada um para aproveitar a paz estabelecida pela instalação da Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) e a vista privilegiada da Praia de Copacabana na festa de Réveillon no alto do Morro Pavão-Pavãozinho. A festa começou no ponto de encontro do grupo, na esquina da Ladeira Saint Roman com a Rua Sá Ferreira, onde todos se prepararam para iniciar a subida dos mais de 350 degraus que levavam à casa que foi sede da "Festa da Laje".

Os turistas foram recepcionados por ritmistas mirins do Projeto Favela Surf, da Escola de Samba Alegria da Zona Sul, composta, em sua maioria por moradores dos morros do Pavão e do vizinho Cantagalo. Os moradores mostraram-se bons anfitriões e esbanjaram simpatia. "Happy new year", desejou um morador a um dos turistas, sem saber que tratava-se de um paulista. O visitante respondeu na mesma língua e justificou que foi "para não cortar a onda dele".

Na festa, as bebidas eram caipirinha e espumante. "Porque quem bebe cerveja não para de beber", disse a dona da casa que sediou a festa, Azelina Viana dos Santos, 66 anos, moradora no morro desde 1959. Para ela, que pela primeira vez recebia estrangeiros numa festa em sua casa, a instalação da UPP em nada modificou sua vida.

"Se eu dissesse que melhorou ou piorou estaria mentindo. Para mim nunca teve tempo ruim. Sempre me respeitaram", contou a proprietária da casa, que com dois quartos, igual número de banheiros, sala e cozinha, recebeu aproximadamente 50 pessoas para comemorar a virada.

Exótico que atrai
O clima de tranquilidade que pouca coisa mudou na vida de Dona Azelina, permitiu a ida de turistas até o morro. "Soubemos dessa festa em uma reportagem e procuramos informações. Inicialmente, ficamos receosos, por conta dos casos de violência de que sempre ouvimos falar, mas quando soubemos da UPP, confirmamos presença", disse o administrador paulistano Guilherme Abreu, 58 anos, que levou a mulher e o filho.

Para a esposa do administrador, a artista plástica Ana Maria Rudge, 44, a ida ao Pavão-Pavãozinho é uma "oportunidade única em minha vida". "Nunca estivemos em um lugar parecido com esse. Em São Paulo, as comunidades são distantes de onde vivemos. Como não queríamos ficar no meio da muvuca da Praia de Copacabana, viemos para cá: um lugar diferente e com uma vista maravilhosa de toda a orla carioca", disse ela.

Já para o inglês Adam Battilana, 28 anos, a UPP veio em boa hora, e "abrirá a porta das comunidades cariocas para pessoas de todo o planeta". "Costumo vir ao Rio e já tinha ido em comunidades para bailes funk, mas sempre em companhia de moradores, e com um pé atrás. Poder vir para cá com toda essa calma e tranquilidade é ótimo", comemorou.

O dono da agência de turismo responsável por organizar a "Festa da Laje", Hércules Gusmão, 46 anos, afirmou que só foi possível a realização do evento depois da instalação da UPP. "A ideia da festa surgiu há uns dois anos, mas nunca saiu do papel por não sentirmos segurança para a realização do evento. Com a presença maciça da polícia foi possível trazer o turista para cá. Não fosse a ocupação, a festa não aconteceria", contou o proprietário da Ipanema 4 Travel, referindo-se à atuação da Polícia Militar, que disponibilizou efetivo superior a 100 homens no Pavão-Pavãozinho.

Fonte: JB Online/Terra

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