Haiti: ajuda é insuficiente, diz brasileiro

O marceneiro maranhense Inaldo Castro da Silva, 44 anos, falou nesta quinta-feira sobre a angústia de ficar três dias sem conseguir avisar à família que sobreviveu ao terremoto de 7 graus de magnitude que atingiu o Haiti, em 12 de janeiro. Silva mora há 15 anos no país caribenho e está de férias no Cosme Velho, zona sul do Rio de Janeiro.

Ele afirmou que muito do que produziu nesses anos está debaixo de escombros em casas e prédios da capital haitiana, Porto Príncipe. O marceneiro disse que será necessária "a calma de um artesão" para reconstruir a cidade.

Apesar de ter sido bem tratado pelos haitianos, o marceneiro não acredita que vá voltar a morar no país. Quando acabar suas férias, no final de fevereiro, ele pretende ir à Porto Príncipe e procurar a empresa em que trabalhava, para se desligar.

Agência Brasil – Como foram os momentos em que ocorreu o tremor?
Inaldo Castro da Silva- Foi um susto muito grande. Eu tinha chegado do trabalho havia 20 minutos quando começou aquele tremor de terra, tão grande e tão rápido. Dentro de 15 segundos, acabou com a cidade quase toda. Foi muito horrível. Eu estava no segundo andar e só deu tempo de pegar minha mulher e sair do hotel onde moramos. Fomos para um pátio e ficamos lá, abraçados, sem saber a proporção da tragédia. Passamos a noite toda lá, sem poder entrar no hotel.

ABr – E qual é o retrato de Porto Príncipe após a tragédia?
Silva – A cidade vive uma dor muito grande. Falta água, comida. A ajuda chega, mas não é suficiente para eles, porque há muitos desabrigados. Os supermercados foram destruídos, então fica muito difícil começar uma nova vida.

ABr – Como você conseguiu avisar à sua família que você estava bem?
Silva – Não conseguia falar com eles. Depois de três dias, eu fui para a República Dominicana, terra natal da minha esposa, para dar um sinal de vida para eles. Até então, eles estavam sem saber de mim e já pensando no pior.

ABr – Por que você decidiu ir para o Haiti?
Silva – Eu fui pra lá para substituir um brasileiro em uma companhia francesa que, depois, foi vendida para três sócios haitianos. As pessoas gostaram do meu trabalho e eu fui me adaptando aos poucos. Também comecei a treinar um pouco de orientação, explicar como trabalhar a madeira bruta, como fazer as janelas e portas.

ABr – Como os haitianos recebem os brasileiros que chegam por lá? Foi fácil se adaptar à vida em Porto Príncipe?
Silva- Os haitianos são muito carentes e gostam muito dos brasileiros. Sempre tratam a gente com muito respeito, muito carinho e isso me dava muita alegria. Eles querem sempre aprender com a gente.

ABr – Você ainda pensa em voltar para o Haiti?
Silva – Antecipei minhas férias, que seriam em junho, e vim para o Brasil ver a família. No fim do mês, vou para a República Dominicana passar mais alguns dias e, só depois, vou para o Haiti para ver com a empresa o que eu vou fazer. Agora, só Deus é quem sabe do meu destino.

Terremoto
Um terremoto de magnitude 7 na escala Richter atingiu o Haiti no dia 12 de janeiro, às 16h53 no horário local (19h53 em Brasília). Com epicentro a 15 km da capital, Porto Príncipe, segundo o Serviço Geológico Norte-Americano, o terremoto é considerado pelo órgão o mais forte a atingir o país nos últimos 200 anos.

Dezenas de prédios da capital caíram e deixaram moradores sob escombros. Importantes edificações foram atingidas, como prédios das Nações Unidas e do governo do país. O Haiti é o país mais pobre do continente americano.

Morte de brasileiros
A fundadora e coordenadora internacional da Pastoral da Criança, Organismo de Ação Social da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), Zilda Arns, e militares brasileiros da missão de paz da ONU morreram durante o terremoto no Haiti.

O ministro da Defesa, Nelson Jobim, e comandantes do Exército chegaram à base brasileira no país para liderar os trabalhos do contingente militar brasileiro no Haiti. O Ministério das Relações Exteriores do Brasil anunciou que o país enviará até US$ 15 milhões para ajudar a reconstruir o país. Além dos recursos financeiros, o Brasil doará 28 t de alimentos e água para a população do país. A Força Aérea Brasileira (FAB) disponibilizou oito aeronaves de transporte para ajudar as vítimas.

O Brasil no Haiti
O Brasil chefia a missão de paz da ONU no país (Missão das Nações Unidas para a Estabilização no Haiti, ou Minustah, na sigla em francês), que conta com cerca de 7 mil integrantes. Segundo o Ministério da Defesa, 1.266 militares brasileiros servem na força. Ao todo, são 1.310 brasileiros no Haiti.

A missão de paz foi criada em 2004, depois que o então presidente Jean-Bertrand Aristide foi deposto durante uma rebelião. Além do prédio da ONU, o prédio da Embaixada Brasileira em Porto Príncipe também ficou danificado, mas segundo o governo, não há vítimas entre os funcionários brasileiros.

Fonte: terra

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