Emoção e revolta marcam enterro de professor assassinado

Parentes, amigos e alunos se reuniram para dar o último adeus ao professor
Parentes, amigos e alunos se reuniram para dar o último adeus ao professor

Carolina Mansur

"Limite, justiça, amor e paz". Foram com essas palavras que dezenas de carros acompanharam, na tarde de quinta-feira, o traslado do corpo do professor Kássio Vinícius Castro Gomes, de 39 anos, no percurso do Ginásio Poliesportivo Divino Braga, onde o corpo foi velado desde a noite de quarta-feira, até o cemitério Parque da Cachoeira, em Betim, onde aconteceu o enterro. No momento da despedida, o desejo entre amigos, professores, familiares e alunos era de justiça, mas o maior sentimento, o da saudade. "Poucas pessoas têm a oportunidade de ter um irmão e amigo ao mesmo tempo, e eu tive os dois. A dor é muito forte nesse momento e não dá para pensar só em justiça agora. É uma perda irreparável", disse uma das irmãs da vítima, recém-chegada da Inglaterra, Maria Teresa Castro Gomes. "É muita saudade, muita saudade, não sei como vou conseguir viver sem ele", reforçou a mãe de Kássio, Maria dos Anjos Gomes.

Cerca de 200 pessoas protestam por morte de professor no centro de BH No enterro também não faltaram homenagens e textos assinados por amigos e alunos. "Adeus é uma palavra difícil de ser dita a um jovem, cheio de desafios e vida como Kássio", dizia uma das mensagens. Cantada por centenas de pessoas presentes, a música Pais e Filhos, da banda brasiliense Legião Urbana, reforçou o sentimento da perda. Familiares comentaram ainda o argumento da defesa do principal suspeito, Amilton Loyola Caires, de 23, que alegou que o jovem sofria com distúrbios psiquiátricos. "A primeira coisa que o advogado faz é arrumar uma desculpa. Primeiro tentaram denegrir a imagem do meu irmão e como não conseguiram porque os alunos tomaram voz, agora falam que o aluno é doente", comentou o irmão de Kássio, Lui Castro Gomes.

"Poderia ter sido um colega, um funcionário ou um diretor, mas foi meu irmão que foi embora e a gente se questiona sobre o que ainda precisa acontecer para que alguém tome alguma atitude. Se fosse o filho de algum governante, com certeza seria diferente porque o Congresso teria força, o presidente ditaria uma medida provisória e os líderes políticos se uniriam e fariam as reformas necessárias", completou.

O presidente do Sindicato dos Professores do Estado Minas Gerais (Sinpro-MG), Gilson Reis, também compareceu ao enterro e comentou a morte do colega. "O caso do Kássio é simplesmente mais uma forma de violência. Temos todos os dias dezenas de pessoas violentadas nas escolas e agora precisamos de um cadáver para chamar a atenção", disse. Ainda segundo ele, uma pesquisa feita pelo sindicato no ano passado, caracterizou um elevado nível de violência nas escolas privadas. "Entregamos esse documento para todas as escolas, para os sindicatos patronais e poder público, mas nada foi feito. Retomamos a discussão novamente em torno dessa pesquisa para salientar que é necessário que as escolas, sindicatos, poder público e sociedade tomem providências e possam estar articuladas junto conosco, porque não é mais possível ter a cada dia mais violência e ver isso como sendo normal. A morte do Kássio é, em parte, a morte da educação. Assassinar um professor é assassinar a educação em Minas Gerais", finalizou o presidente.

No fim da tarde de quinta-feira, às 18h, alunos e professores do Centro Universitário Izabela Hendrix e de outras universidades participam de um manifesto contra a violência, na Praça 7, no Centro de Belo Horizonte. A manifestação segue até a Praça da Liberdade com o objetivo de comover a população e promover a paz.

estadodeminas.com.br

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