Milícia do Rio proíbe moradores pintar os cabelos

Uso de drogas também não é permitido, sob pena de espancamento.

Tasso Marcelo / AEQuadrilha de milicianos foi desarticulada há uma semana, na zona oeste.

Quadrilha de milicianos foi desarticulada há uma semana, na zona oeste.

O controle que a milícia desarticulada há uma semana, durante a operação Tríade, exerce sobre os moradores de regiões da Taquara, em Jacarepaguá, na zona oeste do Rio, vai muito além da cobrança de taxas e da administração de serviços como TV por assinatura e venda de gás.

De acordo com as investigações do Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado), do Ministério Público, e da Draco (Delegacia de Combate ao Crime Organizado), os homens não podem tingir os cabelos, principalmente de loiro, e nem fazer reflexo. Além disso, o consumo de drogas é proibido na região.

O promotor Fábio Miguel Oliveira, do Gaeco, confirmou haver no inquérito depoimentos que confirmam as informações. De acordo com as testemunhas, quem desobedecesse às ordens era espancado pelos milicianos.

– Ainda não temos certeza, mas acreditamos que eles faziam isso para evitar que os moradores parecessem com pessoas ligadas ao tráfico. Sabemos que é comum entre criminosos jovens o uso de cabelos tingidos e com reflexo.

Em um dos depoimentos, uma testemunha diz que um adolescente foi espancado por ter tingido os cabelos, na localidade conhecida como Planeta. No mesmo local, um grupo de jovens que costumava consumir drogas desapareceu. A polícia ainda investiga se eles foram expulsos ou se foram mortos pelos milicianos.

Os milicianos também controlavam o transporte alternativo com o uso de adesivos. Com a inscrição “TP”, uma referência ao policial militar Thiago Pacheco, e a frase "Humildade, Simplicidade e Justiça”, os adesivos eram a garantia de proteção e de que os motoristas não seriam submetidos à fiscalização.

O domínio sobre os moradores era tão forte que o comissário de polícia civil, Eduardo Lopes Moreira, lotado na Delegacia de Campinho (28ª DP) e considerado o mais temido da quadrilha, era uma espécie de conciliador, como explica o promotor Fábio Miguel Oliveira.

– Os moradores recorriam a ele para resolver problemas, como briga de vizinhos, por exemplo. O nome dele era usado até como ameaça. Alguns diziam que levariam os casos ao conhecimento do Eduardo como forma de resolver situações. Até entre os próprios milicianos era Eduardo quem resolvia muitos problemas.

Aluguel de casas

O Ministério Público recebeu informações de que o PM Thiago Pacheco possui 35 imóveis na região, todos alugados.

– Quem não pagasse as taxas, tinha a casa tomada. Como os terrenos são grandes, eles construíam vários quitinetes para alugar. Como a quadrilha tinha advogados, eles esquentavam os documentos.

A polícia também investiga informações de que a milícia teria doado oito toneladas de roupas para moradores da comunidade como forma de assistencialismo e para manter uma espécie de apoio entre os moradores.

Fonte: Marcelo Bastos, do R7

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