Frutas no controle da esquistossomose

Ascom CesmacProfessora-doutora Aldenir Feitosa coordena pesquisa

Professora-doutora Aldenir Feitosa coordena pesquisa

A graviola e a pinha são plantas originárias das Antilhas, mas produzem frutos que caíram tanto no gosto dos nordestinos e são tão cultivadas no Nordeste que mais parecem típicas da região. São inúmeras as receitas de compotas, geléias e doces que tiram partido da consistência cremosa e doce das frutas que atravessam gerações na culinária regional. Por outro lado, a sabedoria popular contribuiu para despertar o interesse dos cientistas sobre a característica medicinal dessas plantas – tendo em vista o disseminado consumo de chás das folhas para curar uma série de doenças.

De olho no potencial terapêutico das anonáceas, família de plantas das quais a graviola e a pinha fazem parte, o Centro de Estudos Superiores de Maceió (Cesmac) está desenvolvendo uma pesquisa que pretende isolar os princípios ativos delas que podem ser utilizados para produzir medicamentos. De acordo com o estudo, que está analisando também outras cinco espécies de anonas, descobriu-se que essas plantas são ricas em substâncias antioxidantes e tem grande capacidade moluscicida – que controla a proliferação de caramujos.
“Buscamos extrair os princípios ativos contidos nas folhas, caule e sementes de algumas anonas facilmente encontradas na região Agreste de Alagoas.

Agora estamos isolando essas substâncias e analisando a viabilidade de introduzi-las na indústria química e farmacêutica”, conta a professora doutora Aldenir Feitosa. “Com essas propriedades naturais, acreditamos que será possível desenvolver fórmulas para curar uma série de doenças causadas pela ação dos radicais livres e desenvolver também compostos químicos que permitirão fazer o controle da proliferação do caramujo hospedeiro do parasita causador da esquistossomose, doença popularmente conhecida por barriga d´água”, conta.

Aldenir destaca que atualmente existem defensivos químicos capazes de fazer o controle do caramujo transmissor, usados pelas prefeituras do país quando há surtos da doença. “Contudo esses moluscicidas causam danos extremos à natureza como a morte dos peixes, por exemplo”, diz. A relevância social do estudo do Cesmac foi reconhecida por instituições de fomento à pesquisa científica. Tanto que além de contar com recursos próprios da instituição, o estudo está recebendo R$ 25 mil em verba da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Alagoas (Fapeal) e do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). Essa verba será aplicada na compra de equipamentos novos para o laboratório onde trabalha a professora e mais 12 alunos dos cursos de Biomedicina e Farmácia.

Sobre a doença – A esquistossomose é uma endemia típica das Américas, Ásia e África. Segundo estudo do médico Naftale Katz, pesquisador titular da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), perito da Organização Mundial da Saúde (OMS), a doença chegou ao Brasil com os escravos africanos trazidos pela Colônia Portuguesa, mas há referências da doença muito antes dessa época. “Ovos do esquistossomo – helminto do gênero Schistosoma que causa essa endemia – foram encontrados em múmias chinesas de mais de dois mil anos. No século XXI, a doença ainda é um problema grave de saúde pública. A OMS estima que a esquistossomose acometa 200 milhões de pessoas em 74 países”, explica.

De acordo com dados recentes do Ministério da Saúde, em 2007, o Brasil registrou cerca de 113 mil casos confirmados de esquistossomose. As principais regiões atingidas pela endemia foram o Norte, com 83 mil ocorrências e o Nordeste, com 30 mil. Em Alagoas foi confirmados pouco mais de 15 mil casos há dois anos. O Estado é o quarto no ranking nacional da esquistossomose, liderado pela Bahia (com 28,8 mil casos), Minas Gerais (21,8 mil) e Pernambuco (17,3 mil casos).

Vulgarmente chamada de barriga d’água, xistosa ou doença do caramujo, a esquistossomose mansoni ou mansônica é caracterizada, na forma mais grave, a hepato-esplênica, pelo aumento do fígado e do baço. O diagnóstico e o tratamento são relativamente simples, mas a erradicação da doença só é possível com medidas que interrompam o ciclo evolutivo do parasito, como a realização de obras de saneamento básico e a mudança comportamental das pessoas que vivem em áreas endêmicas.

“As obras de engenharia sanitária são seguramente as principais medidas a serem tomadas para interromper a transmissão da esquistossomose. Elas evitam a eliminação inadequada dos dejetos e, dessa forma, impedem a propagação da endemia por meio de esgotos a céu aberto, córregos e rios poluídos. No Brasil, o abastecimento de água nas cidades alcança 90% da população, mas esse índice é muito menor nas zonas rurais. Apenas metade das cidades brasileiras tem algum tipo de sistema para coleta adequada dos dejetos”, diz Katz. Segundo ele, outra medida preventiva fundamental é a educação para a saúde das pessoas que vivem em áreas endêmicas, como a mudança de comportamento nas comunidades. “É necessário evitar o contato com a água de rios e córregos, assim como o lançamento das fezes em local inadequado”, adverte.

Fonte: Ascom Cesmac

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