O dia em que o cavalo virou gente

Sionelly Leite/Alagoas24horasAlarme falso mobiliza imprensa e policiais

Alarme falso mobiliza imprensa e policiais

Os constantes homicídios no complexo do Benedito Bentes têm movimentado a imprensa alagoana. Primeiro: os registros são muitos e constantes, inclusive com chacinas. Segundo: os casos se acumulam sem que sejam apontados culpados. Quase sempre o motivo – conforme as investigações policiais – é o tráfico de drogas. Assim sendo, os assassinatos em regiões como Grota da Paz, Alto da Alegria, Frei Damião e outros conjuntos do Benedito Bentes ganham outra conotação.

Até os alarmes falsos assustam moradores e mobilizam a imprensa. Foi o que aconteceu nesta manhã. Parte da grande imprensa de Maceió se encontrava na parte alta da cidade, mais precisamente em um protesto em frente ao Estádio Nelson Peixoto Feijó, próximo ao Benedito Bentes, quando surgiu a informação de que mais um corpo – em avançado estado de decomposição – havia sido encontrado em um sítio na Grota da Paz.

Detalhe: o local era de difícil acesso e com uma descida íngreme e escorregadia. Para chegar ao local, repórteres, cinegrafistas e curiosos formavam um verdadeiro cordão humano, que a cada passo acumulava mais suor e cansaço. Na descida, os diversos comentários dos curiosos povoavam e alimentavam o conhecido “inconsciente coletivo”.

“Rapaz, a violência aqui está demais. Todo dia é um cadáver novo”, colocava um curioso. “É mesmo. Esta semana já foram pelo menos uns três”, destacava o outro. Nossa equipe de reportagem – em especial – já fazia as contas com o Bodycount. Alguns dos 50 assassinatos deste mês ocorreram no Benedito Bentes. Pois bem, depois de uns 15 minutos de descida, camisas ensopadas de suor e esbaforidos, as equipes de reportagens dão de cara com uma cova rasa.

A imprensa chegou antes mesmo das equipes policiais, que também receberam a mesma informação de que o corpo de um homem havia sido jogado no local. Foi mobilizado para a região uma viatura do 5° Batalhão da Polícia Militar de Alagoas. Equipes de repórteres – à espera da PM – olhavam para a cova rasa. E como diz a máxima “quando se olha para o abismo, ele olha de volta para você”, a cova parecia retribuir o olhar com uma frase quase que sonora: “cava-me ou devoro-te”.

Não demorou muito para que um dos moradores da região, revoltados com a demora da Polícia Militar, pegasse uma pá e começasse a cavar no entorno da cova. Resultado: em menos de um minuto um grito seguido de risos: “É um cavalo”. Pronto: fez-se o dia em que o cavalo virou gente e quase entra para as estatísticas, mobilizando policiais e imprensa. Ainda todos ao redor – inclusive curiosos – estavam sem acreditar.

Uma das moradoras confessou: “depois deste esforço todo não ser um corpo de gente, é demais!”. Outros davam graças a Deus por ser só um cavalo, como se aquilo tivesse simbolizado o fim da violência na Grota da Paz, que só tem paz no nome. A certeza só veio quando uma pessoa furou o cerco dos curiosos, olhou para dentro da cova com bastante inclinação filosófica e detonou: “é só um cavalo mesmo. Eu vi quando morreu e enterrei aí para não ficar cheirando mal no local”.

Diante disto, só restou à imprensa dar as costas ao fato e – a pior parte da notícia – subir novamente toda aquela ladeira íngreme. Haja preparo físico. Mas, pelo menos o cavalo que virou gente voltou a ser cavalo e a Grota da Paz ficou com a sensação de que pelo menos hoje, nada de anormal aconteceu por lá. Anormal? A questão se faz necessária, pois antes de descer a grota ouvi um dos populares falar assim: “homicídio por aqui moço. É normal. Não é nem mais notícia”. Só um cavalo mesmo para mudar esta rotina.

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