Paulo Zacarias: “Tive medo de morrer, mas negociei com os seqüestradores”

“Foram momentos dramáticos. Tudo começou quando eu estava dentro do meu carro, esperando a minha esposa, Maria da Conceição, na porta da Igreja Batista. Chegaram três homens armados, mandaram-me passar para o banco de trás, anunciaram o assalto e, imediatamente, cobriram o meu rosto. Minha sorte foi que eles deixaram uma brecha nos meus olhos e pude perceber para onde estava sendo levado”.

Foram com essas palavras que o presidente da Associação Alagoana dos Magistrados (Almagis), Paulo Zacarias, começou contando como foram os primeiros momentos em que esteve nas mãos do bando que o sequestrou na noite do último domingo.

Com momentos de pausa para respiração, suspiros, alternados com algumas declarações em tom de muito humor, o magistrado relatou como se seguiram os três dias em que lê ficou sob o poder dos seqüestradores.

“Eles saíram feito loucos pelas ruas. Percebi que estávamos indo por Bebedouro. Quando passamos pela praça Lucena Maranhão, ainda pensei em pular do carro, mas um dos bandidos estava com uma arma apontada para a minha cabeça. Tive medo de ele atirar, por isso não me joguei. Em seguida cruzamos Rio Novo, Fernão velho e pude ver que passamos pela Mafrial, na cidade de Satuba. Depois disso, entramos numa mata, até chegarmos ao local do cativeiro. Eles montaram uma barraca de camping e me deixaram lá dentro”, lembrou ele.

Valor do resgate

Paulo Zacarias disse que o tempo todo teve medo de perder a vida. “Primeiro pediram a minha identificação. Eu disse que era funcionário público, eles insistiram, disse que era da Justiça, voltaram a perguntar a minha função específica, e acabei dizendo que era magistrado. Daí, eles disseram que juiz ganha muito, é rico, e me pediram logo R$ 500 mil. Eu disse que esse valor era impossível de ser pago e eles me perguntaram quanto eu daria para ser liberado. Eu falei R$ 30 mil. Tive medo de morrer, mas negociei diretamente com os seqüestradores”, recordou.

Apesar do valor ter sido considerado baixo pela quadrilha, Paulo Zacarias afirmou que só subiu o valor do resgate para R$ 50 mil. “Eu disse que tinha um amigo que poderia me emprestar o dinheiro. Pedi para eles conseguirem o telefone desse amigo com meu filho ou esposa e eles saíram dizendo que tentariam fazer o contato”, afirmou o magistrado.

O juiz disse também que o líder da quadrilha, que aparentava ter no máximo 30 anos, o tempo todo o ameaçava com uma arma e pedia para que ele não levantasse a cabeça e evitasse olhar para o rosto do bando.

Primeiro contato

O primeiro contato foi estabelecido com a família da vítima por volta das 6 horas da manhã da segunda-feira, dia 12. “Eu pedi para que ele procurasse o meu filho mais velho, porque acreditava que minha esposa estava muito abalada. O líder saiu de novo e eu fiquei com os outros três que faziam a minha guarda. Segundo Paulo Zacarias, ao meio-dia da mesma segunda-feira lhe foi dada uma quentinha, mas ele não conseguiu se alimentar e devolveu a comida.

Críticas

De acordo com o magistrado, os bandidos fizeram duras críticas à polícia alagoana. “Alagoas nunca investiu na segurança pública. Sou de fora e vim atuar aqui por conta da facilidade. As polícias são desmotivadas e os delegados não têm vocação para a profissão investigativa”, contou.

Na noite do mesmo dia 12 o líder da quadrilha voltou a procurar o magistrado. “Ele chegou dizendo que não iria dá viagem perdida e queria me eliminar. Eu pedi calma e propus, mais uma vez, para negociarmos. Ele me disse que a minha família não estava colaborando”, lembra.

A terça-feira

Paulo Zacarias afirmou que durante a madrugada da terça-feira a quadrilha teria dito que não gostou de saber que a Polícia Federal entrou no caso. “Sujou, tem PF no meio. Eu disse que não queria nem imprensa e nem polícia no caso. A situação vai complicar. Liguei para a sua casa e quem atendeu foi um policial que eu já conheço de outros carnavais”, ameaçou o líder do bando.

E a terça-feira, dia 13, foi mais um dia de angústia para o magistrado. “Eles comentaram que precisavam me tirar dali porque viria uma segunda vítima para ocupar aquele cativeiro. Levaram-me para outro lugar, também no meio da mata, e ali eu fiquei por mais um dia, sentado em cima de um plástico.

De acordo com o juiz, por volta das 13 horas do dia 13, o líder da quadrilha chegou menos apreensivo e nervoso ao cativeiro. “Ele me disse que estava tudo bem, mas saiu de novo e só retornou por volta das 19h30. Nesse horário ele voltou, e me deixou falar com o meu irmão por cinco segundos. Só deu tempo de eu dizer que estava tudo ok”, explicou ele.

A liberdade

Por volta das duas horas da madrugada desta quarta-feira, 14, o bando saiu do cativeiro com Paulo Zacarias. “Nós andamos por mais de uma hora e meia. Eles até brincaram comigo dizendo que eu estava com um ótimo preparo físico. O líder até falou que o seu único exercício físico era correr da polícia”, relembrou o magistrado, com um sorriso no rosto.

Quando o dia já estava amanhecendo, o magistrado resolveu perguntar se ainda faltava muito tempo para ser libertado, já que durante a caminhada, foi informado de que o resgate já havia sido pago no valor de R$ 10 mil. “Num determinando ponto nós paramos e eles pediram para que eu ficasse quieto. Assim permaneci por dezenas minutos. Quando comecei a sentir os primeiros raios de sol, indaguei sobre a minha libertação, mas ninguém respondeu nada. Desconfie que estava sozinho e tirei a venda. Realmente eles já tinham indo embora. Fui andando por meios do canavial até encontrar uma rua de barro. Consegui chegar a umas casas humildes e lá os moradores me disseram que eu realmente estava em Satuba. Mais na frente encontrei uma van e voltei para Maceió”, contou o magistrado.

O reencontro

Paulo Zacarias chegou em casa perto das 6 horas da manhã de hoje. “Minha família estava me esperando ansiosa, juntamente com meus amigos da Igreja e magistrados. Fiquei muito feliz quando reencontrei a todos. Depois de toda a emoção, fui tomar um banho, alimentar-me e fazer a barba. A partir de agora vou mudar meus hábitos de vida”, assegurou o magistrado.

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