Nunca mais li jornais

O André é um amigo que deixei em Brasília; um jovem cibernético responsável pelo sistema de computação do gabinete do deputado José Thomaz Nonô no oitavo andar do Anexo IV da Câmara. Apesar da diferença de idade, havia cumplicidade entre nós; as músicas do Pink Floyd e Jimmmi Hendrix; a literatura e as artes – ele cursa Arquitetura.

O André me disse que nunca mais tinha lido jornal e eu, na condição de jornalista, reagi em tom professoral; não quis ver na revelação do jovem amigo a advertência contundente – os jornais diários estão falindo; os leitores estão sumindo e a maioria dos jornais se arrasta sem chance de sobrevivência.

Meu jovem amigo está a mais de dois mil quilômetros de distância; não posso lhe pedir desculpas pessoalmente pela reação descabida, daí, penitencio-me no rastro de mais uma constatação – e esta reforça tudo o que o André me disse. Eu quis saber o motivo de o André nunca mais ter lido jornal e ele respondeu: “Quem deixa para saber amanhã o que está acontecendo hoje, vai viver sempre atrasado”. A resposta foi à altura da inteligência do meu jovem amigo, mas, na ocasião, entendi como rompante de cibernéticos; esses jovens da geração de computadores, que se julgam mais espertos apenas porque sabem decifrar os comandos e medem tudo em megabytes.

Ledo engano; o André tem razão. A Internet juntou o rádio, a televisão e o jornal e, se os veículos de comunicação existem para atender a cada um dos sentidos – exceção do olfato; a notícia permanece sem cheiro – nada é mais completo para o leitor-internauta do que navegar no computador, onde ele pode ler, ouvir e ver ao mesmo tempo, com outra vantagem: o tato, pelo qual pode interagir. Nenhum outro meio de comunicação permite isto; o André tem razão: o mundo não é virtual, mas quem deixar para saber amanhã o que está acontecendo hoje fatalmente chegará atrasado. Essa é uma questão de cinemática; de tempo e velocidade para encurtar cada vez mais a distância. Ora, se o limite é alcançar a velocidade da luz, então navegar na Internet não é apenas preciso; é imperioso.

Mas, ao mesmo tempo tem-se o fato inédito no jornalismo mundial; as revistas com circulação semanal são responsáveis exclusivas pelos “furos” de reportagens – os assuntos bombásticos, as denúncias contundentes, estão nas revistas, que aumentam a tiragem, enquanto os jornais diários definham. Ao ler a Veja desta semana com a matéria sobre a máfia do apito eu pergunto onde estavam os jornais diários que nada viram? Do mesmo modo, onde estavam os jornais que não ouviram o Valdemar Costa Neto – foi a revista Época que o entrevistou e divulgou a matéria esclarecedora do mensalão.

Meu amigo André tem razão: quem deixa para saber amanhã o que está acontecendo hoje chegará sempre atrasado – daí, a salvação está na Internet. E o que devemos dizer agora, quando se sabe que esse “amanhã” dura sete dias; e, ainda assim, o que existe todo dia (jornal) não consegue acompanhar? Será o fim? Não, os jornais terão sempre o seu espaço; os veículos de comunicação existem – já foi dito – para atender aos sentidos. Todavia, não podem permanecer deixando para dizer amanhã o que está se passando hoje; notícia velha, meu amigo, não serve sequer para enrolar sabão na feira – hoje, tem saco plástico e ebalagens padronizadas.

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