Entre os escombros do Alagoinha, a resistência do Almirante Tamandaré

Luis VilarLuis Vilar

Há quase 40 anos que o Almirante Tamandaré amanhecia e adormecia na entrada principal do Alagoinha. Sem pestanejar, ele foi um dos poucos personagens que esteve presente em todos carnavais, sempre trajado em seu uniforme militar e com uma promessa escrita no busto: “aqui até a extinção”. Foi assim que Tamandaré enfrentou as marretadas, os tratores e a fúria dos demolidores. Sem uma palavra, sem um movimento. Fazendo jus ao cargo de Almirante e a promessa.

“Rapaz, esta estátua não cai não. Já foram inúmeras marretadas. Eu estou suando mais que tampa de chaleira”, declarou um dos demolidores. O outro cansou e se escorou no busto. Entre suspiros, um pedido: “tragam os tratores”. Almirante Tamandaré caiu. “Mas caiu como um forte. Sem se render a canetadas”, comentou o sócio Carlos Galdino. “Aqui tem história”, complementou.

Jaquim Marques Lisboa, o Almirante Tamandaré, é patrono da Marinha de Guerra do Brasil. Foi homenageado pelo Clube Alagoinha depois de diversos feitos ligados a Marinha. É reconhecido nacionalmente. Há até uma cidade com seu nome no estado do Paraná. Nasceu em 1807 e morreu em 1897.

Amargou prisão na Patagônia e sempre foi reconhecido por ser o Almirante da Coragem, comprando todas as brigas possíveis pelas causas que achava justa. Talvez por isso o espírito do Almirante Tamandaré tenha se apossado da estátua, sendo um dos últimos a cair durante a derrubada no Alagoinha, no dia de hoje. Tamanha é a importância de Tamandaré, que no dia de seu aniversário, 13 de dezembro, se comemora o Dia do Marinheiro.

A luta contra os Tamandaré começou por volta das 9 horas da manhã. O almirante não deu sinais de cansaço. Primeiro retiraram a frase emblemática de seu busto, como uma tentativa de arrancar os cabelos de Sansão. Por fim, bem já perto do meio-dia, o herói nostálgico cedeu, para desespero do sócio Carlos Galdino. “Era bom que ele não caísse”, declarou.

Tamandaré se pudesse falar talvez tivesse repetido a frase usada ao sair da prisão na Patagônia, roubar um navio argentino salvar marinheiros americanos de um incêndio e conseguir fugir de volta ao Brasil: “Não se deve desistir do posto jamais”.

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