Sudoku vira febre e ameaça passatempos clássicos

O visual é sem graça. O nome é menos chamativo ainda: sudoku (pronuncia-se "súdôku"). No entanto, para quem já conhece, o jogo é um perigo. Para a indústria de passatempos, uma nova fonte de lucros com potencial de desbancar os clássicos.

A brincadeira ameaça, por exemplo, a hegemonia da palavra-cruzada nas páginas de jornais e revistas, já que é mais acessível –pede apenas o uso de lógica, e não cultura geral como seu principal concorrente.

"Acho que aprendi a conter o vício. No começo, eu parava de fazer minhas coisas para terminar o sudoku", diz o universitário Rafael Fernandes Onça, 20, adepto do passatempo desde o início de 2006.

O vício citado por ele é um quebra-cabeça numérico. Basta papel, lápis e paciência para preenchê-lo. O objetivo do jogador é completar uma tabela de nove blocos, cada um formado por nove quadrados, usando algarismos de 1 a 9.

"Dizem que estimula o raciocínio. Não consegui perceber essa melhora, mas fiquei surpreso porque sempre odiei fazer contas", diz o universitário.

Na verdade, são dispensáveis conhecimentos matemáticos para se jogar sudoku. Por outro lado, precisa-se de raciocínio lógico e alguns minutos livres para pegar o jeito.

As regras básicas são: as linhas horizontais e verticais devem ser preenchidas por números de 1 a 9, assim como os blocos. Não há espaço para repetições. Por isso, sudoku é uma abreviação de "suuji wa dokushin ni kagiru", que se aproxima no português de "dígitos devem permanecer únicos".

Jailson Alves, 35, funcionário de uma banca de jornal da av. Paulista, diz que as revistas de sudoku chamaram sua atenção há quatro meses, quando a venda cresceu acima de sua expectativa. "Hoje vendemos 12 a 15 por dia."

Ao comprar as revistinhas, o jogador pode escolher entre níveis de dificuldade: fácil, médio, difícil são os mais comuns, mas existem ainda etapas como "muito fácil" e "incrivelmente difícil". Os mais mirabolantes envolvem letras e números e são chamados godokus. A diferença entre os níveis no sudoku está na quantidade de quadrados já preenchidos e na disposição dos números. A reportagem levou 35 minutos resolvendo seu primeiro sudoku (nível "muito fácil").

Bom negócio

Apesar de ser uma criação norte-americana, o sudoku se tornou popular no Japão, onde os caça-palavras possuem uma barreira: os ideogramas (kanjis). O sudoku (ou number place, nos EUA) voltou ao mundo ocidental em 2004, quando o jornal britânico "The Times" decidiu publicá-lo na sua seção de "puzzles". Hoje a mania se espalhou, sendo a Inglaterra o país mais viciado neste tipo de entretenimento.

Como toda febre, a brincadeira criou filhotes rentáveis: há sudoku eletrônico de bolso, sudoku na tela do celular, campeonato de sudoku e até programa na TV, o game show "Sudoku Live" do canal inglês "Sky One". Editoras brasileiras também deram um jeito de aproveitar a onda.

Para Henrique Ramos, diretor editorial das revistas "Coquetel" (ed. Ediouro), o sucesso do jogo vem da "simplicidade, que permite que tanto uma criança quanto um adulto consiga resolvê-lo". Ramos revela que a Coquetel possui quatro revistas e dois livros mensais nas bancas, além de sete livros nas livrarias.

Alexandre Linares, coordenador editorial da Conrad, possui outra tese sobre a popularidade dos sudoku. "A invasão desse jogo é ligada diretamente à invasão do entretenimento oriental em nosso hemisfério", afirma, citando também os mangás e o cinema japonês como prova dessa moda. "Já publicamos mais de 20 títulos diferentes de sudoku em menos de 7 meses", diz.

Nas bancas, os preços variam de R$ 1,99 a R$ 10. Diversos sites disponibilizam sudoku on-line e de graça. A internet serve também como ponto de encontro para elaboração de torneios e troca de dicas entre sudokomaníacos. Para quem tem medo de ganhar mais um vício, o universitário Rafael Onça serve como alerta. "De vez em quando eu enjôo, daí volto para a vida normal".

Fonte: Folha Online

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