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Luis Vilar

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De 50 em 50 reais

“Como se vende barato a cidadania neste país”. A frase é do membro do Pleno do Tribunal Regional Eleitoral, Francisco Malaquias, após votar pela cassação do mandato do deputado estadual Antônio Holanda Júnior (PTdoB), acusado e condenado por ter comprado votos a R$ 50. Não quero com este comentário me ater ao julgamento de Antônio Holanda Júnior, até porque – acredito piamente – que não foi o único que possa ter comprado votos nas eleições de 2006, principalmente no que diz respeito ao Legislativo.

Convenhamos! Se gasta muito para se ter um mandato. São interesses que muitas vezes confunde o público com o privado, o candidato com alguma pessoa jurídica e alguma outra pessoa física com o candidato. Nesta ciranda maldita, fica claro que para se eleger, se gasta aquilo que – num cálculo capitalista simples – jamais vai se ter de volta em quatro anos, apenas com o salário de parlamentar. Se sair do bolso do próprio deputado eleito, ele terá que buscar formas de reaver a quantia “investida”. Se sair do bolso de empresários, cria-se o mais comum: o lobby.

Desta forma, o Legislativo fica distante do povo. Como sempre esteve distante. Raras são as exceções nesta roda-viva de interesses escusos e muitas vezes irreveláveis, que só vem à luz de fato quando surge uma operação da Polícia Federal. Nos últimos anos foram várias. Muitas delas mostrando o nefasto locupletar entre o setor público e o privado. Tudo isto nasce lá nos R$ 50 dados para obtenção do voto, muitas vezes.

Alguns deputados – sejam eles federais ou estaduais – compram seus mandatos, assim como compram suas Land Rovers e Pajeros. Desta forma, dispõe deles como bem entenderem. Como bem quiserem. Sem nenhum peso na consciência. Há um tempo atrás presenciei um político – que só não cito o nome por faltar-me provas documentais – dizer a um eleitor: “Eu lhe devo o quê? Satisfação? Não, eu não devo. Eu comprei o seu voto. Já paguei pelo local onde estou”. Impera esta lógica perversa…

O que este motor de engrenagens que funcionam por baixo de uma cortina de fumaças nos dá em troca? Alguns podem dizer “NADA”! Mas é mentira. Ganhamos algo em troca sim. Aos que estão na base rudimentar da cadeia alimentar: R$ 50. Aos que estão um pouco mais acima adesivos para colocar nos vidros dos carros e cargos públicos comissionados em folhas escondidas. Não é por acaso que os poderes legislativos por aí a fora fogem dos concursos públicos, como os demônios fogem da cruz.

Aliás, nesta seita demagoga que usa o santo nome da transparência em vão, são muitos poucos os que levantam o cálice e dizem: “Tomai e bebei todos vós”. Porém, são inúmeros aqueles que se contentam com a mais pequenina gota deste vinho servido no bacanal dos sacrilégios. E o pior, os que desta realidade comungam ainda fazem – quando a violência sai das favelas e batem em suas portas – passeatas revoltosas contra a insegurança e pelo fim do medo.

O germe da insegurança e do medo é lançado em meio à corrupção, que muitos apóiam até mesmo pela ignorância. É o dinheiro que deixou de ir para a educação, para a saúde, que banaliza a forma como se conseguir dinheiro, conseqüentemente transforma todos os nossos valores em conceitos frágeis, podendo ser rompido a qualquer hora. Trazendo-nos uma série de exceções ou de maleabilidades, para aquilo que um dia se foi contra e hoje – por força das circunstâncias, ou por dependência política – já não se é mais.

Não é só a cidadania que se vende barato. É algo de muito maior valor: o caráter, a honestidade, enfim. A selva capitalista não tem mais distinguido o poder político do econômico. Tem dado liberdade demasiada a quem – por força da grana – pode desfrutar da impunidade. E tem dado um cárcere frustrante a quem – pela força da ausência da grana – não tem miseras oportunidades de se dar bem no sistema. Dos dois pólos surge uma criminalidade desenfreada.

Jovens ricos sem limites que não sabem o valor da vida. No outro canto do córner, jovens pobres que não possuem como aprender o valor da vida. E assim, de 50 em 50 reais há quem acredite ainda ser possível exercer a democracia. A Justiça demonstra claramente o quanto tarda e falha. Um único punido no mar de lamas não produzirá mudanças nas correntezas deste oceano.

Mas que, fique a esperança. Que pese sempre quem acredite na mudança. Neste amontoado de cadáveres e de injustiça que se tornou o nosso cotidiano, é preciso sempre acreditar em algo para além da força da grana que “ergue e destrói coisas belas”…

Será que eles possuem de fato idéia do que vendem por R$ 50?

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