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Luis Vilar

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Do silêncio e do grito

No século V antes de Cristo o dramaturgo Sófocles, por meio de um de seus personagens, cita de forma precisa o diagnóstico de seu tempo, porém – quem diria – que o escritor fosse capaz de – mais de dois mil anos depois – ser lido com tanta atualidade. Eis o que cita Sófocles: “Nada suscitou nos homens tantas ignomínias como o dinheiro. É capaz de arruinar cidades, de expulsar os homens de seus lares; seduz e deturpa o espírito nobre dos justos, levando-os a ações abomináveis. Ensina ao mortal os caminhos da astúcia e da perfídia, e o induz a realizar obras amaldiçoadas pelos deuses”, sacramenta.

A assertiva objetiva de Sófocles disseca a alma humana e mostra a civilização de portas escancaradas. O poder do dinheiro, em muitos casos, quando água podre que rega o jardim da comunicação social, é mais que a castração da verdade, mas sim a promoção do obscurantismo, ora por meio da censura, ora pelo advento do cultismo e do conceptismo – dos amigos Gregório de Mattos e Padre Antônio Vieira – malversados.

O jornalismo – instrumento do “grito” e da “liberdade” – deixa entrar por suas veias o ouro que reluz, mas não salva. O mais grave é que apenas não silencia, mas abre um abismo para uma “realidade paralela”, onde – como diria Lucrécio (século I A.C) – “não importa quão belo e forte sejam os homens, eles sempre abdicaram de si mesmos para seguirem os mais ricos”.

A boca calada, a mão alugada e a mente corrompida passam a ser os grandes males da imprensa atual, que não representa os interesses dos que de fato possuem a concessão dos meios de comunicação: o povo, que as outorga a representantes, que – por sua vez – se locupletam nos interesses da “midiocracia”. O jornalista, muitas vezes, é subjugado à função de ponto ínfimo neste oceano da difícil arte de separar o joio do trigo. Por vezes, obrigado a utilizar das entrelinhas na esperança de ser compreendido naquilo que não pode afirmar diretamente.

Algumas informações que vão para a lata do lixo causam úlceras, gastrites crônicas, dentre outros males que afligem o corpo e a alma. Há, ao menos, os detentores da pena que se resguardam, se apóiam e se conduzem pela “honestidade intelectual” e pelo compromisso para com seus leitores. Pois, de forma abominável e condenável, ainda há os que se vendem. Sem julgá-los, ou personificar casos, me interrogo: “Ao que não obriga o coração, ó execranda fome de ouro?”, como coloca o pensador Virgílio.

A pena é frágil, mas o coração endurece sem perder a ternura e o compromisso. Mesmo sabendo que a censura, econômica, política, ou institucional é a única coisa que ninguém jamais – em hipótese alguma – censura. É então que cita-se Shakesperae:

“Ouro amarelo, fulgurante, ouro precioso! Basta uma porção dele para fazer do preto, branco; do feio, belo; do errado, certo; do baixo, nobre; do velho, jovem; do covarde, valente. Ó deuses! Porque isto? O que é isto? O ouro arrasta os sacerdotes e os servos para longe de seu altar, arranca o travesseiro onde repousa a cabeça dos íntegros. Esse escravo dourado ata e desata vínculos sagrados; abençoa o amaldiçoado; torna adorável a lepra repugnante; nomeia ladrões e lhes confere títulos, genuflexões e a aprovação na bancada dos senadores. É isso que faz a viúva anciã casar-se de novo. Venha, mineral execrável, prostituta vil da humanidade (…) eu o farei executar o que é próprio de sua natureza”…

E assim, nascem as coberturas de posses, solenidades e recebimentos de medalhas, por parte daqueles que estão – conjuntamente – em um único pódio: o da cadeia alimentar. No entanto, ressaltam-se os heróis e tapam-se os olhos para suas atitudes maquiavélicas. Dignos de O Príncipe. Pais da violência, das mazelas, da miséria, da podridão. No entanto, limpos, em ternos engomados, aplaudidos e abençoados. Na mordaça, o silêncio comprado, a ordem de cima, vinda dos heróis de nosso tempo.

Sei que estes meandros ocorrem em todas as áreas da sociedade. A dita regra do mais forte, sobre o mais fraco. Como diria o compositor Humberto Gessinger: “Por mais que se grite, o silêncio é sempre maior”. Porém, porém, porém… “o que não for imprenso, ainda pode ser escrito à mão”, sejamos jornalistas ou não. E neste caso, deixo aos leitores um ensinamento do filósofo Francis Bacon: Leiam de tudo e tudo, mas leiam não para contradizer, nem para acreditar em tudo o que lêem. Leiam sobre tudo o que anda por trás do que foi escrito. Leiam, mas para ponderar e considerar. Alguns livros são para serem degustados, outros para serem engolidos, e alguns poucos, para serem mastigados e digeridos.

Estamos leitor diante de um monstro delicado, de face irreconhecível, por vezes sedutora, por vezes amável, que é justamente quando – ao menos no jornalismo – ele é mais perigoso.

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