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Luis Vilar

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Dos políticos e a imprensa.

“A culpa é da imprensa!”. Esta é uma frase que ecoa no Senado Federal desde que o mundo é mundo. Ecoou também na Assembleia Legislativa do Estado de Alagoas, com o retorno dos deputados estaduais taturanas. Em todos os casos há inquéritos instaurados. Lá, Sarney é investigado. Aqui, os deputados pelo desvio de mais de R$ 280 milhões. Segundo a Polícia Federal, com uma documentação vasta.

Já depois da Taturana, foi aberto um processo investigativo no Ministério Público Estadual que investiga o uso indevido das verbas de gabinete. Mas, se estas coisas surgem a olhos vistos, fica em carne viva, sempre tem alguém para gritar: “a culpa é da imprensa”. De fato, concordo em gênero, número e grau, que há uma parcela da imprensa que sobrevive dos exageros, do denuncismo, dentre outras práticas criminosas que se confundem com o bom jornalismo.

Não cabe ao exercício do jornalismo o pré-julgamento. Porém, cabe sim a divulgação dos fatos. Se muitas vezes eles surgem de forma unilateral é porque parte dos envolvidos prefere as sombras, os jogos, ou muitas vezes o contato direto com donos de emissoras de rádios e televisão, ou jornais impressos. Quando não conseguem: a culpa é da imprensa!

Quem ouviu atentamente as rádios locais no dia de ontem, viu um político, por exemplo, responsabilizando a imprensa por uma “quase” perda de verbas, por tornar difícil a visita de ministros. Motivo: diante de tantas coisas boas em Alagoas, ele achou estranho que a imprensa repercuta que a capital alagoana tem sido a mais violenta. Não era o momento para que as estatísticas fossem trazidas à luz, segundo o político. O melhor seria calar? Então, qual seria o momento? É preciso pedir autorização para tocar em pontos que ferem e machucam, que nos revelam?

Sim, há boas ações do poder público, assim como há coisas lindas em Alagoas, e elas são divulgadas, devem ser, como devem ser cobradas mais ações, em outras esferas até. Assim como a culpa da violência não é exclusiva de um prefeito, deputado, ou de um gestor. Claro que não. Há uma conjuntura de fatores. Há uma cronicidade de irresponsabilidades e descasos que amalgamam ao atual momento, gestões desastrosas do passado: seja municipal ou estadual!

Mas, é mais fácil que a culpa seja da imprensa. Em especial dos blogueiros, dos sites de notícia e de uma série de outros que passaram a divulgar os homicídios constantes que ocorrem na faixa etária entre 15 e 25 anos de idade, na capital alagoana. É crescente também os homicídios entre adolescentes, como mostrou a Ordem dos Advogados do Brasil, seccional Alagoas. Aonde mais cresce? Em Maceió. O relatório é da OAB, mas a culpa é da imprensa.

Mas, quem puxa o gatilho da violência? A ausência de ação do poder público? O sucateamento das forças policiais? A falta de programas efetivos de transformação, geração de emprego e renda que não fiquem apenas no assistencialismo do Governo Federal? A corrupção que desvia R$ 300 milhões que poderiam contribuir para o desenvolvimento social? A falta de projeto para uma cidade que cresce em grotas, favelas, dentre outras áreas que vivem na sombra e sem direito a voz?

A imprensa tem sua parcela de culpa também quando incita a violência, em alguns casos, quando mente, omite ou finge que não possui responsabilidade alguma sobre os fatos. Mas não é detentora da culpa que alguns políticos querem nos impor, em seus discursos regados de Lexotan, ou coisa pior.

Mas, eles precisam de apenas um bode expiatório. Que se censure a violência nas páginas de jornais. Quando proibirem ela de ser divulgada, expondo apenas um conteúdo artístico, educativo e agradável, aí sim teremos um paraíso. Esqueçam se alguns crimes só são elucidados diante da pressão da mídia. Esqueçam…e se continuarem matando adoidado? E se continuarmos no topo da lista da capital mais violenta? Ora, a imprensa não divulgou, o presidente veio nos visitar, o ministro veio nos visitar. Temos praias e tapiocas. Temos a vida que pedimos a Deus. Serão só aplausos, pois não haverá culpados…

A imprensa ainda engatinha em muitos sentidos, principalmente no que diz respeito às relações promiscuas entre alguns “seres do universo midiático” e do “universo político”. Mas quem defende a busca pela verdade dos fatos, traz em si a consciência cidadã, a responsabilidade com a escrita, a honestidade intelectual para com os seus leitores e visa inferências contextualizas expondo de forma reflexiva os fatos. Reflexiva, no sentido de ser um reflexo da realidade.

Se hoje nossa pequena burguesia é uma ilha em meio a um mar de sangue, desfilando “na moda”, a falência de paradigma indica que durante anos tentamos tampar o sol com a peneira. O problema é que – muitas vezes – matérias jornalísticas sérias são como os raios deste mesmo sol que ultrapassa a peneira e incomoda olhares que sempre foram acostumados a ditar visões, ao invés de discutir abertamente a forma como enxergam o mundo.

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