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Entrevista para o blog: José Marques de Melo

O alagoano José Marques de Melo é uma das referências, na América Latina, a respeito dos estudos sobre o Jornalismo ou as transformações da sociedade brasileira, no âmbito da Comunicação Social. Na semana passada, o professor e criador da Escola de Comunicação e Artes da Universidade de São Paulo foi nomeado pelo Ministério da Comunicação para reavaliar o quê os estudantes de Jornalismo estão aprendendo nas universidades ou faculdades.
Em entrevista exclusiva a este blog, o professor respondeu, por correio eletrônico, a perguntas sobre a formação acadêmica do jornalista, eleição no Estados Unidos e a qualidade dos jornais brasileiros.
Aqui no blog, a entrevista se divide em três partes. Na primeira, o professor alagoano fala das expectativas da comissão, criada pelo MEC e concebe o jornalista como “vigilante da sociedade”. Veja:

O senhor foi nomeado pelo Ministério da Educação (MEC) para estabelecer novas normas curriculares para os cursos de jornalismo. O que o ministério quer exatamente?

JMM – A expectativa do MEC é melhorar a qualidade da informação a que tem acesso cotidianamente a sociedade. Trata-se de fortalecer a democracia, através da participação cidadã. E isso só pode ser atingido plenamente quando houver uma cidadania bem informada, capaz de demandar conteúdos plurais e transparentes do sistema midiático. Logo, tudo começa pela fortuna cognitiva dos jornalistas, pressupondo sua formação adequada na universidade. Vamos diagnosticar a situação e prescrever soluções consensuais, em sintonia com os segmentos da comunidade jornalística, de modo a corresponder às aspirações da sociedade.

Essa discussão do MEC acontece em um momento bastante peculiar da mídia, como o furacão depois da prisão do banqueiro Daniel Dantas – relevando as veias da imprensa brasileira- e essa tentativa, segundo a Federação Nacional dos Jornalistas, de se “controlar” as atividades da imprensa. A questão deve ser olhada por este prisma? Quais os problemas ou soluções destas visões?

JMM – Plenitude democrática só se obtém com liberdade, mas também com responsabilidade. Isso significa dizer que os jornalistas devem ter formação ética, além do adestramento técnico. Durante o aprendizado jornalístico na universidade é desejável que os futuros profissionais sejam familiarizados com as peculiaridades do sistema midiático, inclusive com as manipulações da informação por parte dos grupos de poder, precavendo-se para atuar como vigilantes do interesse público, sem descuidar o respeito à privacidade dos cidadãos.

Nessa discussão também deve estar a qualidade do Jornalismo e dos jornalistas na sociedade brasileira. Como o senhor avalia estes dois lados?

JMM – Com a minha experiência de quase meio século no âmbito do jornalismo, sinto que existe uma carência muito grande de conhecimento sobre a natureza dos processos jornalísticos brasileiros, o que estimula a importação de padrões forâneos inadequados, quando poderíamos nos inspirar em experiências testadas dentro do próprio país. Enfim, estou sinalizando para a precariedade da agenda dos pesquisadores do jornalismo brasileiro, que mantém distância em relação às demandas coletivas e faz poucas comparações entre o que praticamos hoje nas redações e o que experimentamos ontem ou que assimilamos acriticamente das matrizes hegemônicas.

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