Desmatamento vai crescer na Amazônia

A saída da ex-ministra Marina Silva do Ministério do Meio Ambiente do governo, na última terça-feira, ocorreu quase ao mesmo tempo em que o governo colhe estatísticas negativas na área ambiental.

Projeções do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), com base em levantamentos feitos até agora, indicam com boa dose de certeza que 2008 vai registrar mais aumento nos índices de desmatamento na região amazônica.

A ex-ministra falou ontem pela primeira vez, depois de deixar o governo Lula. E negou, ao contrário das evidências, que tenha saído por divergências com Mangabeira Unger, que tomará conta do Plano Amazônia Sustentável (PAS).

Ela atribuiu sua saída da pasta a um processo de ‘estagnação’ e à necessidade de ‘renovação’ das políticas ambientais, com a chegada de um novo titular. ‘Na estagnação, devemos criar um novo processo com novos acordos e um novo ministro’, disse, em entrevista coletiva concedida ontem. Mas a ex-ministra citou pressões e referiu-se nominalmente ao governadores do Mato Grosso, Blairo Maggi (PR), e de Rondônia, Ivo Cassol (sem partido).

As pendências e demandas na área ambiental vão sobrar para Carlos Minc, o novo ministro do Meio Ambiente. Ele disse que foi intimado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva a aceitar o cargo, mas destacou que precisa de carta branca para poder administrar um setor dos mais estratégicos do governo.

Em sua primeira entrevista, Minc afirmou que o Brasil precisa de uma nova lei de licenciamento ambiental, ‘com exigências mais rigorosas, mas que diminua ao mesmo tempo a burocracia’.

Apenas no Pará, 65 km2 até agora

Além de causar apreensão nas organizações que atuam na proteção da região Amazônica, a saída da ex-ministra Marina Silva, do Ministério do Meio Ambiente, aconteceu sem que ela cumprisse uma de suas últimas promessas – a de conter o desmatamento na Amazônia neste ano.

Os números do calendário anual de desmatamento, que vai de agosto a julho, estão fechados só até março, mas o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) já aponta que a área desmatada entre agosto de 2007 e o fim de março deste ano é de 4.732 quilômetros quadrados. No período anterior, de agosto de 2006 a julho de 2007, a destruição foi de 11.200 quilômetros quadrados, sete vezes e meia a área da cidade de São Paulo. Com essa tendência, o Inpe e as organizações ambientais são como certo o crescimento da área desmatada.

Adalberto Veríssimo, coordenador do Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon), explica que o Mato Grosso, o Pará e Rondônia respondem juntos por 95% do desmatamento da Amazônia, sendo o Pará o vice-campeão de desmatamento da região. No Pará, os dados detectados pelo Sistema de Alerta de Desmatamento (SAD) apontam que o Estado atingiu 65 quilômetros quadrados de área desmatada só nos três primeiros meses de 2008 (janeiro a março). Esse valor representa um aumento de quase 70% da área desmatada no mesmo período de 2007, que totalizou 28 quilômetros quadrados.

Segundo Veríssimo, no acumulado do calendário anual de desmatamento (agosto 2007 a março de 2008), a área total desflorestada atingiu 1.362 quilômetros quadrados. Isso representa um aumento de 76% em relação ao mesmo período do ano anterior (agosto de 2006 a março de 2007) quando o desmatamento somou 775 quilômetros quadrados.

De janeiro a março de 2008, a maioria das áreas desmatadas (93%) foram de áreas privadas ou sob diversos estágios de posse. A perda de floresta nos assentamentos de Reforma Agrária representou 7%, mas desta vez não foram detectados desmatamentos nas áreas protegidas – terras Indígenas e unidades de conservação. Os municípios paraenses que mais desmataram nesse período foram Ulianopólis, com 28% do total, seguido de Paragominas, com 20%, e Dom Eliseu, com 10%, todos localizados na rodovia Belém-Brasília e incluídos na lista dos municípios críticos do Ministério do Meio Ambiente.

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